HISTÓRIA COMPARADA DA EDUCAÇÃO: ALGUMAS APROXIMAÇÕES

      Dermeval Saviani

 1. Introdução: O que significa comparar?
Conforme sugere Alfredo BOSI (1992, p.11), “começar pelas palavras talvez não seja coisa vã”. Começo, pois, pela pergunta: o que significa comparar? Se formos aos dicionários iniciando a consulta pelo vernáculo, o sentido parece mais ou menos evidente. Aí temos: cotejar, confrontar e, mais especificamente, pôr em igual nível; considerar como igual ou semelhante; igualar, equiparar (FERREIRA, 1999, p.511). No entanto, o sentido que mais se aproxima daquele que corresponde ao tema deste evento é examinar simultaneamente, a fim de conhecer as semelhanças, as diferenças ou relações (Ibidem). Se do vernáculo passarmos à sua matriz latina, a consulta sobre o sentido do verbo comparo, comparavi, comparatum, comparare nos revela, de início, aquilo que já constatamos no vernáculo: comparar; confrontar; mostrar por comparação; ponderar. Mas já aparecem, também, alguns significados diversos: reunir; ajuntar; fazer lutar; opor (TORRINHA, 1945, p.170). É, porém, quando recorremos ao grego que nossa pesquisa filológica nos conduz a um resultado que não se detém no sentido comum e corrente evocado pela palavra comparar. Em grego, comparar se expressa através do verbo ???-????? (na forma infinitiva, ???-???????) que, como se vê, é composto pela preposição ??? que significa com e pelo verbo ??????? que significa distinguir, discernir, escolher, decidir, julgar, explicar uma questão, interpretar, apreciar, avaliar. É interessante observar que é também daí que deriva ???-??????, comparação mas que, literalmente, significa síncrise (PEREIRA, 1976, pp.333 e 537).
A partir do grego fica, pois, evidente o caráter de exame crítico contido na palavra comparação a qual, entretanto, contém, já na sua etimologia, o seu contrário, isto é, a síncrise. Em verdade, o prefixo ??? unido a ???????  para formar o verbo grego que está na raiz do português comparar conduz, literalmente, aos seguintes significados: distinguir ou discernir com, isto é, tomadas duas ou mais coisas, considerar suas semelhanças ou diferenças; co-escolher, co-decidir, co-julgar, co-interpretar, co-apreciar, co-avaliar, isto é, tomados dois ou mais fenômenos, considerar conjuntamente as características de cada um deles. Daí, também o significado de reunir, ajuntar, fazer lutar, opor. Com efeito, o ato de comparar implica, preliminarmente, a reunião dos elementos suscetíveis de comparação a qual não deixa de ser, também, o ato de contrapor esses elementos, um ao outro, fazendo-os lutar entre si. Entende-se, então, por que comparação, em grego, se exprime através da palavra ???-?????? que significa co-apreciação, co-avaliação, co-julgamento, co-distinção, co-discernimento, mas que também deu origem à palavra portuguesa síncrise já que significa igualmente reunião com. E daí deriva o significado psicológico de síncrise e sincretismo entendido como percepção global inicialmente confusa sobre cuja base surgem, depois, objetos distintamente percebidos, assim como o significado filosófico de sincretismo enquanto tendência a reunir idéias ou doutrinas diferentes e até mesmo inconciliáveis entre si. Conseqüentemente, esse exercício filológico em torno da palavra grega ????????? nos permite compreender a comparação como um procedimento intelectual caracterizado por um potencial crítico mas que, ao mesmo tempo, traz consigo o risco de juntar elementos não suscetíveis de serem reunidos efetuando aproximações indevidas.
Compreendido o significado etimológico de comparar, cabe observar que ao considerarmos a questão da comparação no âmbito histórico-educativo é pertinente distinguir entre educação comparada, história comparada, história da educação comparada e história comparada da educação.

2. Educação comparada:
Os estudos de educação comparada remontam ao início do século XIX. Admite-se, como marco inicial desses estudos, a obra de Marc-Antoine Julien, Esboço e considerações preliminares de uma obra sobre a educação comparada, publicada em 1817. Sabe-se também que por essa época a motivação para os estudos comparados vinha do interesse em se comparar sistemas educacionais quando os Estados nacionais, que então se organizavam, se empenhavam, ao mesmo tempo, em organizar também os respectivos sistemas nacionais de ensino. A partir daí, independentemente da situação específica das nações emergentes, tendeu-se a generalizar o recurso à comparação visando a aprender com a experiência dos outros. Tornou-se, então, comum a realização de viagens de estudo feitas por autoridades educacionais ou por pessoas por elas designadas cujos relatórios deveriam ter a utilidade de auxiliar na organização dos sistemas educacionais dos países que patrocinavam essas visitas. Posteriormente, já no século XX, surgiram manuais ou tratados de educação comparada como os de Kandel (1933), Estudos em educação comparada, Rodrigues (1938), Educação comparada: tendências e organizações escolares, Hans (1949), Educação comparada, Lourenço Filho (1961), Educação comparada, Holmes (1965), Problemas de educação, uma abordagem comparada, Vexliard (1967), Pedagogia comparada: métodos e problemas e, a partir de 1955, as publicações da UNESCO que permitiam uma visão mais ampla dos sistemas de ensino da quase totalidade dos países.
Os estudos acima referidos, porém, ainda que em alguns casos contivessem elementos históricos, não se caracterizavam como história comparada da educação. Esta, obviamente, consiste na aplicação do método histórico comparativo ao estudo da educação. Abordemos, pois, sinteticamente, a questão da história comparada para, na seqüência, considerarmos a história da educação comparada e a história comparada da educação.

3. História comparada:
O significado, importância, vantagens e riscos da história comparada foram objeto de preocupação de historiadores como Bloch (1930), Barraclough (1969), Febvre (1970), Genovese (1971) e Klein (1967). A importância e vantagens do método comparativo em História se ligam à busca de cientificidade que implica a passagem da descrição para a explicação dos fenômenos históricos e o controle das hipóteses e generalizações, além de permitir escapar das fronteiras decorrentes da geografia política que marcou a historiografia do século XIX. Os riscos incluem: o perigo de cometer anacronismos; a supervalorização do método comparativo como se, a partir do estudo de alguns casos, se pudesse decifrar a história humana; e a mera justaposição da descrição de casos individuais, deixando a comparação a cargo do leitor (Cf. Cardoso e Brignoli, 1983, pp.409-415).

4. História da educação comparada:
 A história da educação comparada se insere naquilo que hoje vem sendo denominado de história das disciplinas. Trata-se, nesse caso, de se investigar a trajetória da educação comparada desde suas origens até os dias atuais. Ao que parece, este é um campo ainda inexplorado à espera de alguém que se disponha a levantar, organizar, analisar e criticar as fontes disponíveis, sistematizando os resultados alcançados.
 A educação comparada no Brasil já teve dias melhores. Além do trabalho pioneiro de Milton C. da Silva Rodrigues, Educação comparada: tendências e organizações escolares, publicado pela Companhia Editora Nacional em 1938, seguido das traduções de Kandel, de Nicholas Hans e de Vexliard, assim como da publicação do livro de Lourenço Filho, chegamos a ter uma “Sociedade Brasileira de Educação Comparada” que organizou o VI Congresso Mundial de Educação Comparada, realizado no Rio de Janeiro de 6 a 10 de julho de 1987 que reuniu, em torno do tema “Educação, crise e mudança”, 553 congressistas integrando delegações de 43 países.
 Uma pesquisa sobre a história da educação comparada no Brasil poderia nos esclarecer sobre as vicissitudes dessa área disciplinar em nosso meio assim como sobre as linhas interpretativas que ela comportou. Uma hipótese ou pista nessa direção poderia ser extraída da conferência proferida no VI Congresso Mundial de Educação Comparada por Gail P. Kelly, ex-presidente da Sociedade Americana de Educação Comparada. Tomando como tema “a educação comparada e os problemas da transformação”, ela se propõe a apresentar “um roteiro para a década de oitenta” (Kelly, in Verhine, 1989, pp.57-70). E o faz, traçando uma linha comparativa entre a visão que teria sido predominante na disciplina na década de 60 e aquela que passou a predominar na década de 80. Para ela a educação comparada possuía uma visão otimista na década de 60 a qual foi substituída pelo pessimismo na década de 80. Antes predominavam os termos “modernização”, “desenvolvimento” e “transformação social”; depois, vieram as expressões “necessidades básicas”, “produção de renda” e “emprego” (pp.57-58). Antes dominava o tema da expansão da educação, substituído depois pelo tema da contenção (p.58). “Na Educação Comparada dos anos sessenta, reinava o otimismo quanto à capacidade das escolas no sentido de melhorar a sociedade”. Diferentemente, nos anos oitenta surgiram trabalhos onde se alegava “que a única função das escolas públicas era de exacerbar as desigualdades” (p.63). Tentando explicar essa mudança de visão, Kelly realça a importância da abordagem histórica. Para ela, “nos últimos vinte anos a Educação Comparada tornou-se um campo impaciente” (p.66). Em seu entendimento o otimismo dos anos sessenta se baseava em pesquisas históricas. Diz ela: “o estudo clássico de Shipman sobre a educação e a modernização engloba duzentos anos; a pesquisa de Passim sobre o Japão começa com o ano de 1868 e a de Dore com o século XVII; a pesquisa de Seymour Rosen sobre a União Soviética traça as reformas desde a época em que o Czar emancipou os servos; a teoria de Theodore Schultz sobre o capital humano baseia-se na história americana a partir da Guerra de Secessão” (p.66). Assim, “nos anos sessenta tínhamos fé que as escolas, a longo prazo – depois de várias gerações – provocariam o desenvolvimento econômico”. Contrariamente, nos anos oitenta – em alguns casos já nos anos setenta – a decepção com a educação estará ancorada em estudos de curto prazo sendo que “a maioria das pesquisas que encaram com ceticismo a capacidade das escolas, no sentido de transformar a economia e a estrutura social” são baseadas “em avaliações da expansão e das reformas de menos de dez anos” (p.66). Parece que temos aí uma interessante pista para investigar a história da educação comparada.
 Finalmente, convém considerar, ainda que de forma sucinta, a questão relativa à história comparada da educação a qual, em meu entender, corresponde ao tema central deste VII Encontro da Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores de História da Educação. Aqui se trata de aplicar o método histórico-comparativo ao estudo da educação.

 5. História comparada da educação:
 A rigor, a história comparada da educação é algo que, no Brasil (e creio que isso vale para toda a América Latina), ainda está por fazer. Com efeito, as tentativas nesse sentido têm se limitado, por enquanto, a coletâneas em que, dado um tema, diferentes autores, de diferentes países, tratam do referido tema nos respectivos países tenham ou não, as mencionadas coletâneas, o propósito explícito de se situar no âmbito dos estudos comparados. Em ambos os casos não se trata, propriamente, de estudos comparados porque a comparação não é feita, sendo deixada como uma tarefa atribuída aos leitores. Para ilustrar essa situação mencionarei dois trabalhos .
 O livro Formação de professores: a experiência internacional sob o olhar brasileiro, organizado por Goergen e Saviani (1998) aborda o tema anunciado no título em seis países: Alemanha, Japão, Itália, Canadá, Cuba e Colômbia sem se propor explicitamente como um trabalho de educação comparada. Entretanto, na Introdução do livro os organizadores chamam atenção para as possibilidades comparativas presentes na obra já que um mesmo tema é abordado em sua manifestação em diferentes países, embora de forma independente e com critérios analíticos e interpretativos autônomos.
 Por sua vez, o livro Escuela nueva em Argentina y Brasil: visiones comparadas, organizado por Gvirtz (1996), como se percebe pelo subtítulo, manifesta pretensões de um trabalho de história comparada da educação tomando como tema específico a questão da escola nova . Entretanto, o que temos aí é também um conjunto de seis estudos inteiramente autônomos entre si e realizados com critérios heterogêneos tanto no que se refere aos objetos escolhidos como no que respeita aos enfoques adotados, sem nenhum plano comum e sem nenhuma análise comparativa, ainda que, como se indica na Apresentação, teria havido três eixos temáticos sendo que a cada um deles corresponderiam dois textos versando um sobre a escola nova no Brasil e o outro sobre a escola nova na Argentina. Esses eixos seriam: “1) Estado da arte sobre as investigações sobre o tema, a cargo de Clarice Nunes e Mariano Narodowski; 2) Escola Nova e políticas editoriais, a cargo de Marta Carvalho e Silvina Gvirtz; 3) A inserção institucional do movimento da Escola Nova no sistema educativo, a cargo de Diana Gonçalves e Silvia Roitenburd” (pp.5-6). De qualquer modo, a comparação está ausente do livro ficando, também nesse caso, como uma tarefa inteiramente a cargo dos leitores, sem lhes oferecer nenhuma pista para a realização dessa tarefa ressalvando-se apenas o texto de Diana Gonçalves Vidal que relata o intercâmbio entre estudantes argentinos e brasileiros mencionando também a presença de Lourenço Filho na Argentina ministrando curso na Universidade de Buenos Aires .
 À vista dessas constatações, torna-se pertinente a seguinte indagação: haveria entre nós algum estudo claramente situado no âmbito da história comparada da educação? Em verdade, ocorre-me apenas um texto que poderia, sem maiores dificuldades, ser classificado como de história comparada da educação. Trata-se de um trabalho apresentado por Diana Gonçalves Vidal e Silvina Gvirtz.na XXI Reunião Anual da ANPEd realizada em 1998. Foi publicado na Revista Brasileira de Educação, n. 8, ago, 1998, pp.13-30 com o título O ensino da escrita e a conformação da modernidade escolar: Brasil e Argentina, 1880-1940 e incluído, depois, em versão mais condensada mas precedida de uma Introdução situando-o no âmbito da história comparada, em Faria Filho (Org.), Pesquisa em história da educação: perspectivas de análise, objetos e fontes, 1999, pp.69-86, agora com a seguinte denominação: História da educação comparada na América Latina: um caso para repensar algumas suposições (o ensino da escrita e a conformação da modernidade escolar no Brasil e na Argentina, 1880-1940). Observo apenas que o título resultou impróprio pois não se trata exatamente de um estudo no âmbito da história da educação comparada mas de história comparada da educação.

 6. História comparada da educação e intercâmbio internacional:
 De minha parte, esclareço previamente que não tenho me dedicado sistematicamente a estudos de história comparada da educação. Entretanto, a partir de minha participação em atividades conjuntas com outros países da América Latina e de uma investigação que realizei sobre a história da formação de professores na Itália, tenho feito algumas incursões nesse tema. Terminada a pesquisa realizada na Itália estabeleci, na conclusão do relatório, alguns elementos comparativos entre a história da formação de professores nas universidades italianas e brasileiras (Cf. Saviani, “O problema da formação de professores na Itália”, in: Goergen e Saviani (Orgs.), Formação de Professores: a experiência internacional sob o olhar brasileiro, 1998, pp.115-157).
 Por outro lado, ainda em conseqüência dos estudos feitos na Itália, avancei algumas sugestões de estudos comparados no campo da história da educação brasileira e italiana que poderiam ser realizados no âmbito de um ou vários projetos de pesquisa desenvolvidos conjuntamente por historiadores da educação brasileiros e italianos. Os pontos levantados foram: 1) A comparação entre a posição dos constituintes de 1823, no Brasil, sobre ensino elementar em contraposição ao ensino universitário e as disposições da Lei de educação, de 4 de setembro de 1802, da República italiana instalada por Napoleão no Norte da Itália e da Lei Casati, de 1859, que se constituiu na primeira lei de educação da Itália unificada; 2) a relação entre instrução e sufrágio: as leis brasileira e italiana que na década de 1880, condicionaram o direito do voto à alfabetização; 3) a luta contra o analfabetismo no início do século XX no Brasil e na Itália, sugerindo-se uma comparação entre o poeta Olavo Bilac e Camillo Corradini que destacaram o papel do exército na luta contra o analfabetismo; 4) a comparação entre a “enquête Corradini”, de 1907/1908 e o “inquérito Fernando de Azevedo”, de 1926; 5) a “Carta della Scuola” de Bottai, de 1939 e as “Reformas Capanema”, de 1942-1943; 6) o impacto do fenômeno migratório nas lutas pela educação popular na Itália e no Brasil (Cf. Saviani, “Idéias para um intercâmbio internacional na área de História da Educação”, in: Sanfelice, Saviani e Lombardi, História da educação: perspectivas para um intercâmbio internacional, pp.9-18).
 No mesmo texto acima mencionado fez-se o registro do grande número de encontros e congressos que se vêm realizando regularmente propiciando um intenso intercâmbio entre pesquisadores de história da educação dos países de origem latina da Europa e da América com perspectivas promissoras para o desenvolvimento da área. Lembrou-se, porém, que o referido intercâmbio tem se caracterizado mais pela troca de experiências e de informações sobre estudos realizados em cada país, escasseando propostas de projetos de pesquisa conjunta ou sobre temas comuns. Daí, a expectativa então enunciada de que sobre a base do grau já atingido de desenvolvimento do intercâmbio científico e contando com a já avançada organização institucional dos historiadores da educação, se inaugure uma nova etapa representada pela implementação de projetos conjuntos de investigação sobre temas ou problemas de interesse comum. Essa nova etapa constituiria, sem dúvida, um terreno propício para se instaurar consistentes linhas de pesquisa no campo da história comparada da educação.
Nesse sentido, vale a pena insistir em viabilizar projetos baseados em idéias como as apresentadas no II Encontro Ibérico de História da Educação, realizado em Zamora, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1995, cujo tema central foi “o processo de modernização educativa na Espanha e em Portugal desde as origens de seus respectivos sistemas educativos nacionais até as experiências dos últimos regimes autoritários”. Entre os vários trabalhos discutidos nesse Encontro cumpre destacar o documento apresentado por Gabriela Ossenbach com uma proposta de periodização da educação na Espanha, Portugal, Hispano-América e Brasil abrangendo aproximadamente o período entre 1808 e 1930/40. Significativamente, o título do texto em que essa proposta foi formulada é Por uma história comparada da educação na Espanha, Portugal e América Latina (Escolano e Fernandes [orgs.], 1997, pp.227-252).
7. Conclusão: por uma história comparada da educação brasileira:
Por fim, cabe observar que, no caso do Brasil, há um grande espaço para pesquisas de história comparada da educação no interior do próprio país, através do estudo de diferentes regiões ou, para levar em conta os limites determinados pela geografia política, através do estudo dos diferentes Estados (ou províncias no caso do período do Império). Um passo importante nessa direção está sendo dado com a publicação, pela Sociedade Brasileira de História da Educação com o apoio do INEP, da coleção “Documentos da Educação Brasileira” que pretende cobrir todas as províncias/Estados disponibilizando, assim, fontes que poderão ser analisadas sob a perspectiva da história comparada da educação brasileira.
Considero essa linha de investigação de grande relevância e, mesmo, uma condição para se colocar, de forma mais precisa, a questão da viabilidade, alcances e limites dos estudos de história comparada da educação entre o Brasil e os outros países. Com efeito, é a partir daí que será possível distinguir entre o que é próprio da educação brasileira como um todo e aquilo que é específico de cada uma das diferentes regiões que compõem o nosso país. Portanto, senão antes, ao menos concomitantemente, a par do intercâmbio internacional entre pesquisadores de história da educação do Brasil e de outros países, será necessário intensificar o intercâmbio nacional entre os historiadores da educação dos vários Estados do Brasil. Com esse objetivo caberia formular projetos conjuntos de investigação no âmbito da história comparada da educação envolvendo pesquisadores de diferentes Estados o que, atualmente, resulta facilitado uma vez que dispomos de uma instância de articulação propiciada pela Sociedade Brasileira de História da Educação.

Referências:
BARRACLOUGH, Geoffrey, Slavery in the New World. A reader in comparative history. New Jersey, Prentice-Hall, 1969.
BLOCH, Marc, “Comparaison”, Revue de Synthèse Historique, t. LXIX, 1930.
BOSI, Alfredo, Dialética da Colonização. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
CARDOSO, Ciro Flamarion e BRIGNOLI, Héctor Pérez, Os métodos da história. Rio de Janeiro, Graal, 3a.ed., 1983.
ESCOLANO, Agustín e FERNANDES, Rogério (Edits.), Los caminos hacia la modernidad educativa en España y Portugal (1800-1975). Zamora, Fundación Rei Afonso Henriques, 1997.
FEBVRE, Lucien, Combates por la História. Barcelona, Ariel, 1970.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda, Novo Aurélio Século XXI: Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
GENOVESE, Eugene, “The comparative focus in Latin American History”. In: In red and black. Nova Iorque, Pantheon Books, 1971, pp.375-388.
GOERGEN, Pedro e SAVIANI, Dermeval (Orgs.), Formação de Professores: a experiência internacional sob o olhar brasileiro. Campinas, Autores Associados, 1998.
GVIRTZ, Silvina (Org.), Escuela Nueva em Argentina y Brasil. Miño y Dávila, 1996.
HANS, Nicholas, Comparative Education. London, Routledge & Kegan Paul, 1949.
HOLMES, Brian, Problems in Education, a comparative approach. London, Routlegde & Kegan Paul, 1965.
JULIEN, Marc-Antoine, Esquisse et vues préliminaires d’un ouvrage sur l’éducation comparée. Paris, L. Colas, 1817.
KANDEL, Israel L., Studies in Comparative Education. New York, Columbia University, 1933.
KELLY, Gail P., “A educação comparada e os problemas da transformação: um roteiro para a década de oitenta”. In: VERHINE, Robert (Org.), Educação: crise e mudança. São Paulo, E.P.U., 1989.
KLEIN, Herbert S., Slavery in the Americas: a comparative study of Cuba end Virginia. Chicago, University of Chicago Press, 1967.
LOURENÇO FILHO, Manuel Bergstron, Educação comparada. São Paulo, Melhoramentos, 1961.
PEREIRA, Isidro, S.J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego. Porto, Livraria Apostolado da Imprensa, 1976.
RODRIGUES, Milton C. da Silva, Educação comparada: tendências e organizações escolares. São Paulo, Nacional, 1938.
SAVIANI, Dermeval, “O problema da formação de professores na Itália”. In: GOERGEN e SAVIANI (Orgs.), Formação de professores: a experiência internacional sob o olhar brasileiro. Campinas, Autores Associados, 1998, pp. 115-157.
SAVIANI, Dermeval, “Idéias para um intercâmbio internacional na área de história da educação”. In: SANFELICE, SAVIANI e LOMBARDI, História da educação: perspectivas para um intercâmbio internacional. Campinas, Autores Associados, 1999.
TORRINHA, Francisco, Dicionário Latino-Português. Porto, Marânus, 1945.
VEXLIARD, La pédagogie comparée: méthodes et problèmes. Paria, P.U.F., 1967.
VIDAL, Diana Gonçalves e GVIRTZ, Silvina, “O ensino da escrita e a conformação da modernidade escolar: Brasil e Argentina, 1880-1940”. Revista Brasileira de Educação. N. 8, Ago, 1998, pp.13-30.
VIDAL, Diana Gonçalves e GVIRTZ, Silvina, “História da educação comparada na América Latina: um caso para repensar algumas suposições (o ensino da escrita e a conformação da modernidade escolar no Brasil e na Artentina, 1880-1940). In: FARIA FILHO, Luciano Mendes (Org.), Pesquisa em História da Educação: perspectivas de análise, objetos e fontes. Belo Horizonte, HG Edições, 1999.

       Campinas, 1o. de maio de 2001.

        Dermeval Saviani.