Sistema de Submissão de Trabalhos, X SEMINÁRIO NACIONAL DO HISTEDBR: “30 ANOS DO HISTEDBR (1986-2016): CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA ED

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O FILME PIXOTE: um artefato pedagógico de controle e regulamentação das infâncias (1980-1985)
LUIS ALBERTO PEREIRA PEREIRA

Última alteração: 2016-06-08

Resumo


Esta comunicação tem por objetivo apresentar os resultados finais das reflexões de uma pesquisa dissertativa acerca da infância marginalizada. O objeto e a fonte de investigação foi a obra cinematográfica Pixote, a lei do mais fraco, de 1980, dirigida por Hector Babenco no final da ditadura brasileira (1964-1985). O referencial teórico-metodológico, que subsidiou e norteou as análises, ancorou-se nas categorias do pensamento foucaulteano. A análise das fontes contribuiu para que pudéssemos entender como se davam as práticas de governo da infância marginalizada nos reformatórios e nos grandes centros urbanos do Brasil durante os anos de 1980. A pesquisa desenvolveu-se a partir da análise das imagens fílmicas presentes na obra cinematográfica citada, de reportagens jornalísticas da imprensa escrita e de pareceres técnicos da censura militar, produzidos no momento do lançamento da película, que nos permitiram perceber as práticas de governo sobre a infância, ao mesmo tempo, favorecendo nosso acesso aos meandros históricos do contexto ditatorial brasileiro. Do ponto de vista historiográfico há uma prevalência em preservar a memória daqueles que estiveram no chamado engajamento político contra os militares. Contudo, o objetivo desse trabalho foi justamente problematizar as crianças marginalizadas desse contexto. Infâncias submetidas a práticas exacerbadas de poder e disciplinar, que também resistiam ao processo histórico por meio de contrapoderes, como tática de sobrevivência e luta em face às opressões. Enfim, a pesquisa proporcionou um entendimento acerca do uso estratégico da infância marginalizada, uma vez que a partir das crianças “marginais” se deu a elaboração e o aprimoramento de todo um aparato disciplinar e de governo das crianças, com dispositivos eficientes, realizando-se no campo jurídico, policial, discursivo e pedagógico. Notou-se que no entorno das crianças marginalizadas forjava-se mecanismos eficientes de controle social, que não se restringiam tão somente a tais indivíduos, mas que também se estendiam a todo corpo social infantil, porquanto por meio do sistema binário é que se constituíam os padrões de normalidade. Isto é, a criança anormal servia como espelho ou ponto de partida para a constituição dos parâmetros de normalidade infantil. As fontes visuais e, principalmente, a documentação escrita deste trabalho foram fundamentais para inferir, que no contexto da década de 1980, existia de modo disseminado na sociedade e na imprensa brasileira, um conjunto de práticas discursivas que colaboravam para ressignificar a identidade dos pequenos marginalizados, bem como favoreciam para reafirmar imagens dos delinquentes infantis. Sendo, portanto, possível asseverar que a imprensa e o filme Pixote funcionaram como dispositivos de construção dos patrões anormais infantis com vistas a servir de contraponto para a fabricação de uma infância normatizada. Nos anos de 1980, a produção, a exibição e a repercussão da obra cinematográfica Pixote, a lei de mais fraco de Hector Babenco pode ser vista como uma prática social que corroborou para exercícios de governo das crianças marginalizadas, resultando na normatização do corpo social infantil.


Palavras-chave


Cinema; Infância; Dispositivo; Governo.

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