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I POIETHOS1 - Apresentação e Objetivos
Prof. Dr. César Nunes

Tomamos como premissa a consideração de que cada sociedade, em determinadas condições materiais e institucionais, desenvolve um conjunto de representações de valores e de exigências de comportamentos sociais regulados, éticos e políticos. A investigação sobre a dialética criadora da representação de ideais éticos e políticos nos diferentes grupos sociais constitui o horizonte inspirador do presente Simpósio e sua temática.

Para a Filosofia aristotélica a política e a ética expressam o conteúdo da Paidéia. O estado natural, definido por esse autor como a primeira natureza, coincidente com um estado de animalidade ou barbárie, deve ser elevado e transformado por um segundo estado político, conquistado através da Educação, que acentua as razões do agir moral racional (Ética) e da convivência de iguais (Política). A educação seria o processo de instruir e formar a natureza humana, desenvolvendo o máximo de sua identidade, num processo equilibrado e eficiente de integração à ordem social. Essas são as bases da articulação clássica aristotélica entre Política, Ética e Educação.

A Ética assumiu um lugar destacado nos discursos e representações simbólicas da sociedade atual. Reconhecemos uma ampla saturação das abordagens e tratamentos sobre a Ética em nossos dias. Igualmente a Política ocupa lugar fundamental em todos os campos e meios de ação e reprodução social atuais. Mesmo diante das propaladas teorias que apontam crises e superações institucionais de múltiplas dimensões sociais, de revitalização de questionamentos catastróficos sobre as práticas políticas, culturais, científicas e morais atuais, assiste-se a um inusitado esforço para firmar e consolidar o campo da Ética em suas potenciais articulações, sobre todas as demais esferas de ação coletiva.

Nosso tempo e nossa sociedade encontram-se diante de um exemplar paradoxo: de um lado assiste-se à exaltação das liberdades e possibilidades humanas de uma maneira nunca vista, com o acumulo científico e tecnológico exemplar e de outro constata-se uma acentuação discursiva sobre as intensas rupturas de toda a articulação simbólica e cultural, institucional e ideológica, nascida da modernidade e suas representações. O intenso e vertiginoso século XX produziu um sentimento ou atmosfera de estranhamento, captado pela percepção dos sintomas de nossas contradições estruturais, que se apresenta como uma superação, das esferas econômicas, políticas, culturais e ambientais inauguradas pelo triunfo da modernidade.

O sistema de produção inaugurado pela expansão ultramarina européia nos séculos XIV e XV, inicialmente conhecido como Mercantilismo, passando séculos mais tarde pelas formas de industrialização, colonialismo, imperialismo, monopolismo e, já no século XX, pelas novas bases ideológicas denominadas neoliberais, decorrentes da desregulamentação do mercado, da redução do papel do Estado e da afirmação de novas práticas econômicas e culturais é o terreno histórico sobre o qual concentramos nossas disposições reflexivas. O rearranjo estrutural do modo de produção capitalista, denominado ambiguamente como globalização, pautada na centralização das forças de mercado e na hegemonia da busca do lucro, na maximização da produção e reprodução das economias especulativas, particularmente ao final dos últimos 25 anos do século XX, desencadeou uma nova concepção da vida pessoal e coletiva, da realidade do cotidiano e da esfera pública, ressignificando as matrizes clássicas modernas.
A crise das religiões tradicionais e suas formas de reprodução e legitimação, numa era de multiplicação de informações e ampla difusão dos meios de transmissão de dados ampliou ainda mais esse sentimento de desarraigamento. O cenário que logramos identificar como contexto de nossa época encontra-se ilustrado pelo esgotamento crescente dos recursos naturais, pela ameaça constante de guerras e enfrentamentos bélicos, pela proliferação de distúrbios ambientais e agressões ecológicas, constituindo um pano de fundo dramático, beirando ao trágico e, em alguns casos, ao deslinde acentuado para o macabro. Essa sensação de mal-estar acentua-se quando observamos o lacunar vazio das expressões culturais da sociedade de massas, a avassaladora perda do sentido do humano nas mais inusitadas práticas, tais como a violência contra as crianças e jovens,  a acelerada delinqüência juvenil, os ataques às escolas e universidades expressos num fenômeno mundial denominado bullying, o individualismo competitivo extremado como valor, a banalização do corpo e da sexualidade, o culto da indolência e a exacerbação do consumo, a expansão de concepções criminosas de racismo, sexismo e a reprodução de barbáries contemporâneas desse tom e matiz. Esse conjunto de expressões do fenômeno social e cultural de desagregação e esfacelamento das teias morais e axiológicas de nossa sociedade tem preocupado a educadores, militantes e intelectuais.

Desde a inauguração reflexiva de uma teoria do agir moral humano, efetivada por Aristóteles e sua clássica Ética a Nicômacos, passando pelas cristalizações morais da concepção judaico-cristã medieval, notadamente considerando as diversas abordagens modernas, de Spinoza a Kant, de Locke a Rousseau, de Maquiavel, Hobbes a Hegel, bem como as abordagens críticas dessas concepções modernas tais como as produções de Marx a G. Luckacs e I.Meszaros, para citar alguns, reconhecemos o vigor e a pertinência filosófica dessas indagações e suas conseqüentes repercussões sociais.

A suposta crise de uma ética de inspiração nucleada na ação humana, considerada como uma fundamentação imanente, como expressão política nascida da natureza humana, ainda que radicada em determinada concepção de ação política trouxe à baila um conjunto de disposições que, em nome da superação dessas concepções parecem estar mais próximas das suas formas mais atávicas, quase que pré-modernas. Assistimos a um reavivamento de proposições éticas transcendentes, messiânicas, soteriológicas, milenaristas e, consideradas conjuntamente, notadamente transcendentes ou idealistas.  Os sistemas religiosos tradicionais constituíram bases conceituais e representações de valores que sustentaram práticas e teorias éticas de largo alcance axiológico e de ampla duração histórica, como o bramanismo, o budismo, o islamismo, o taoísmo e o cristianismo, para citar alguns.

O radical helenista ethos designava preliminarmente a toca, a casa primitiva, o lugar de abrigo, depois designava o esteio da casa ou morada humana, na Grécia Antiga. Aristóteles condensa e empresta um novo sentido ao termo, definindo a Ética como uma das ciências práticas que diziam respeito ao caminho racional e virtuoso de atingir a finalidade da vida humana, a felicidade. O filósofo explicita uma primeiro tratado sobre Ética, ensinando conceitos, regras e disposições que diziam respeito à condução equilibrada e planificada das regras da casa, dos valores de convivência humana primária até considerar o governo da cidade e suas instituições. O ethos é o espaço da experiência humana, assim como a identidade de seu entorno e derivação: o ethos é a expressão da conduta dos homens na busca de suprir suas necessidades, na expressão de suas potencialidades, na configuração de sua cultura e modo de ser ou agir. O ethos configuraria, assim, um conjunto de representações dos grupos humanos, que abarca as formas de viver e produzir a vida, as formas de conviver e reproduzir essa mesma vida, socialmente considerada. Trata-se de um processo político e de um produto cultural e social. São cânones, normas, regras e dispositivos que vão sendo traçados, constituídos e legitimados no espaço do agir humano, a sociedade, através da ação política, na direção de manutenção ou reprodução de determinadas formas e práticas sociais e culturais. A Ética constituiria a consideração desses consensos fundamentais, contratos e imperativos basilares para a consubstanciação da experiência humana em sociedade.

A Educação, tomada como prática social, condensa uma radical identidade ética e política.  A formação e apreensão das disposições éticas e o preparo para a ação política são dimensões intrínsecas da atuação educacional. A ação dos educadores implica na consideração das necessidades e expressões sociais e culturais, necessárias e presentes, mas guarda essencialmente uma potencialidade de formação de imperativos éticos fundamentais para a produção de consensos humanizadores no campo da política e da vida cotidiana.

Dessa forma, requer-se dos educadores e das instituições sociais responsáveis pela formação de professores uma radical reflexão sobre a Ética, seus fundamentos e sua natureza, a Política e suas expressões. A Universidade pública, em seus grupos e composições institucionais, é chamada a assumir claramente um lugar nesse debate emergente, de modo a apresentar razões e elementos que justifiquem um compromisso com valores e coordenadas políticas democráticas, solidárias e humanistas amplas e pluralistas.

1Trata-se de um neologismo: a junção intencional dos vocábulos gregos POIESYS, derivado do verbo poiesein, que significa fazer, produzir, referindo-se à atividade material, ao trabalho manual, à atividade laboral, com o termo Ética, derivado de ethos, que assumiu a identidade de ciência ou  investigação das bases axiológicas do agir humano, a análise  racional sobre os costumes, sobre os fundamentos do agir moral, ou ainda mais, a temática que assumiu as  diversas concepções teóricas produzidas pela Filosofia e sua construção social e histórica. Poiethos seria a projeção da articulação intrínseca entre a  o fazer, a produção social da Educação e da Ética, e o espaço político, objeto desse simpósio e suas disposições.

OBJETIVOS GERAIS

  • Reunir pesquisadores, intelectuais, professores, educadores, profissionais e interessados na reflexão sobre a ética e suas abordagens na sociedade atual.
  • Investigar as articulações entre Ética, Política e Educação presentes nas atuais políticas educacionais e suas referências na configuração das pesquisas sobre Filosofia e Educação.
  • Debater as tendências e abordagens da Ética nos diversos campos da sociedade e do trabalho humano na atualidade.
  • Analisar as matrizes políticas dos discursos e proposições de Ética e Educação presentes nas pesquisas e parâmetros curriculares referenciais da educação brasileira.
  • Legitimar as dimensões éticas da formação do educador, consolidando matrizes epistemológicas e políticas pluralistas, dialógicas e propositivas.
  • OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Apresentar e socializar estudos, pesquisas e produções acadêmicas (dissertações e teses) elaboradas na Linha de Pesquisa Política, Ética e Educação do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação PAIDÉIA, do Programa de Pós Graduação da FE/UNICAMP.
  • Articular as pesquisas e estudos desenvolvidos no Grupo com outros grupos e linhas de pesquisas que envolvam a Ética e Educação, a Política e Educação no país.
  • Consolidar e difundir a temática da Ética na pesquisa em Filosofia e Educação no conjunto da produção acadêmica brasileira.

  • Apresentação PDF (67 kb)

    Folder Oficial PDF (622 kb)

    Cartaz Oficial PDF (99 kb)

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