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Estudantes da Licenciatura Integrada em Química e Física Gestão Alcateia | Atualizado em 22/08/2021 - 11:36 FE Publica

Entrevistas e Conversas com os estudantes do "56" – Adriana Lopes

Há três meses, no dia 9 de maio de 2021, muitas mães receberam carinho e lembranças de seus filhos e filhas, parentes, amigos e amigas. Mãe é a figura central na vida de muitos de nós, por seu acolhimento, nos ensinando como a vida pode ser difícil muitas vezes, mas mostrando que, com muita luta, podemos sempre mais.

Hoje vamos conhecer Adriana Lopes Limeira, a mãe e a estudante do 56. 

Campineira da periferia e mãe da Gabi e da Manu, Adriana ingressou em 2015 no curso de lobinhos. Antes disso, batalhou muito para criar suas filhas e cresceu muito em suas convicções na sua busca por melhorar de vida. Trabalhou como cozinheira durante 7 anos entre creches e escolas, sendo a última a escola Padre Narciso Vieira, conhecida na época como escolinha branca, e como chapeira e doceira por 4 anos. Adriana sabia que, com esses trabalhos, tinha poucas chances de dar mais para suas filhas. Depois, trabalhou em uma creche, mas o salário também era insuficiente. Em conversas com conhecidos, se interessou pelo curso técnico de Bioquímica, oferecido pela ETECAP. Depois cursou técnico em Química. Com isso, arrumou trabalho num laboratório, Biocamp, onde começou a sonhar mais alto. Segundo Adriana, na periferia as pessoas parecem ter perdido a capacidade de sonhar, como se tivesse sido tirado delas.

Conheceu a Unicamp quando fez estágio num laboratório e logo prestou vestibular para o curso 50, Química Tecnológica. Como não conseguiu aprovação, fez pré-vestibular no antigo Cursinho Popular do DCE, hoje Dandara dos Palmares. Infelizmente, ainda não foi o suficiente para a aprovação. Foi aí que a esposa de um professor do cursinho recomendou o 56 para Adriana. A mãe 56, ciente da dificuldade de ser aprovada no 50, tentou o vestibular pela terceira vez, mas escolheu Pedagogia e o 56 como primeira e segunda opção, respectivamente. Passadas as primeiras chamadas, Adriana perdeu as esperanças e resolveu não tentar mais ingressar na Unicamp. Foi aí que a mesa virou. A esposa do professor, que a havia recomendado o 56, viu que Adriana tinha passado na quinta chamada e a comunicou!

Na Unicamp, Adriana enfrentou uma série de obstáculos. A alta exigência nas disciplinas a fez se questionar sobre as próprias escolhas, pois se deparou com lacunas de conhecimento onde acreditava ter domínio no assunto. Além disso, a pressão frente aos resultados, no início, foi muito difícil de suportar. Infelizmente, isso fez com que ela se sentisse muito culpada pela vida que viveu. Ver outros estudantes, mais jovens, solteiros e tendo bons rendimentos colocou Adriana numa posição muito difícil, onde ela se questionava se a universidade era lugar para ela. Porém, com o apoio de professores e colegas, e nas disciplinas da FE, Adriana compreendeu que o preparo nunca foi a característica mais importante. Afinal, como ela mesma diz, a Unicamp também não está preparada para receber todo tipo de estudante. 

Adriana realmente esperava um ambiente menos hostil na universidade, mas conta hoje como aprendeu a valorizar as amizades e sua família. Demonstrando muita humildade, não teve vergonha de pedir ajuda para quem quer que fosse, seja colega, PAD, PED, professor ou desconhecido. Com isso fez grandes amizades, mas também conheceu pessoas muito fechadas, percebendo que, em outros cursos, existe uma competição muito nociva entre os estudantes. Sendo assim, define o 56 como um curso acolhedor, onde todos estamos "matando um leão por dia", mas nunca deixando de cuidar das necessidades uns dos outros.

Por todas as vezes que se levantou após uma queda e todas as feridas cicatrizadas, Adriana aprendeu que podemos sempre buscar mais, pois tudo é possível com perseverança. Na universidade, além de conteúdo, aprendeu onde buscar o que precisa para avançar. A troca de conhecimento nesses anos de Unicamp foi maravilhosa e muito rica. Hoje, se vê como peça de um quebra-cabeça, que toma forma a cada dia. Apesar do alto preço que pagou na universidade, por ter se dividido entre suas filhas e os estudos, Adriana ainda gostaria de cursar Engenharia Química ou 50, mas está muito feliz com o que construiu no 56. Não pensa em mestrado agora, mas em terminar o curso, tirar um tempo e refletir.

Apesar das grandes dificuldades enfrentadas nessa jornada, Adriana entende o quanto cresceu com as experiências que teve na universidade e nos ensina a não ter medo ou orgulho de pedir ajuda, pois a educação é um ato coletivo. Numa das inúmeras conversas que teve com colegas pela Unicamp, uma vez foi questionada sobre um momento difícil que estava enfrentando. Essa conversa a fez pensar sobre seus objetivos e com ela entendeu que a recompensa vem com muito esforço. Por isso deseja que os ingressantes se exponham e busquem construir sólidas amizades, mas que também se esforcem. A caminhada, somos nós que fazemos e não podemos deixar a sociedade definir nossos caminhos. A riqueza da universidade está em oferecer o que está além dos nossos olhos e a mãe 56 ousou enxergar mais longe.

 

Estudantes da Licenciatura Integrada em Química e Física

Gestão Alcateia*

 

* Imagem autorizada pela estudante.