NEGRITUDE: A ANCESTRALIDADE E O PRECONCEITO
Ninguém parece ter dúvida de que o povo brasileiro é massivamente miscigenado. O Brasil, pré-formado por diversas etnias, traz consigo um universo de ancestralidade bastante rico e único.
A cultura brasileira é devedora de várias culturas, especialmente, a cultura africana, que perdura até os dias de hoje. Atualmente, a sociedade busca o resgate dessa ancestralidade.
Mais adiante iremos tratar das desigualdades culturais, mas por enquanto vamos introduzir o ponto destacando, brevemente, a transferência cultural dos povos africanos para as religiões afro-brasileira e brasileira.
O CANDOMBLÉ:
Segundo Rodrigues,[1] o Candomblé, fortemente representado na Bahia, também está presente em outras regiões do Brasil. A religião foi formada pela união de escravos de regiões diferentes em uma mesma senzala. Baseado no culto aos Orixás, Deuses da África – que são divindades da Natureza, representando suas forças, é uma religião de caráter espiritualista e que apresenta conceitos de mediunidade e incorporação em seus rituais. Respeitando a tradição, realiza-se a imolação de animais em determinados rituais e raspagem de cabeça para os iniciados. Essas práticas são polêmicas, mas respaldadas pela lei.
A UMBANDA:
A Umbanda, religião genuinamente brasileira, com influência africana e católica, também cultua os orixás como forças da Natureza, onde cada divindade tem seu domínio: mar, mata, cachoeira etc. Manipula ervas e acredita no contato com a espiritualidade por meio da incorporação mediúnica. Essa religião foi fundada em 1908 por Zélio de Moraes, no Rio de Janeiro, e hoje se disseminou não só no Brasil, mas também em outros países do mundo. Fundada por um jovem branco da classe média carioca, a Umbanda abraçou e acolheu os menos favorecidos, os marginalizados, os pobres, ex-escravos e negros em geral. O povo africano pôde, depois de muito tempo, resgatar as suas raízes, a sua fé e a sua crença nos orixás. Seus fundamentos principais são: amor, caridade e humildade. Embora tenha mais de 100 anos, ainda sofre preconceito e intolerância, assim como acontece com o Candomblé. Existem muitas variantes dentro da religião. Cada doutrina adotou elementos diferenciados, mas os fundamentos básicos é o que determina o que é Umbanda. A influência católica se dá por meio do sincretismo religioso das divindades cultuadas, que são denominadas com termos africanos e nomes de santos católicos, com algumas variações regionais: Oxalá, Jesus Cristo / Xangô, São Bartolomeu / Oxossi, São Sebastião / Ogum, São Jorge / Iemanjá, Nossa Senhora da Conceição / Iansã, Santa Bárbara / Oxum, Nossa Senhora Aparecida / Nanã Buruque, Sant’ana / Obaluaiê/Omulu, São Lázaro.
O site ‘diferença.com’ mostra bem as diferenças entre o Candomblé e a Umbanda:
“Candomblé é uma religião afrobrasileira, que foi trazida pelos africanos escravizados. Umbanda é uma religião brasileira que mescla elementos do catolicismo, espiritismo, e religiões afro-brasileiras.”[2]
Sobre o preconceito racial e religioso sofrido pelo povo negro, o site ‘ocandomble.com’ relata: “Por volta de 1826, a polícia da Bahia havia, no decorrer de buscas efetuadas com o objetivo de prevenir possíveis levantes de africanos, escravos ou livres, na cidade ou nas redondezas, recolhido atabaques, espanta-moscas e outros objetos que pareciam mais adequados ao candomblé do que a uma sangrenta revolução. Nina Rodrigues refere-se a certo quilombo, existente nas matas do Urubu, em Pirajá, “o qual se mantinha com o auxílio de uma casa de fetiche da vizinhança, chamada a Casa de Candomblé”.[3]
Um artigo do Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa Ilê Iyanassô: “Foram presos e colocados à disposição da polícia Cristovão Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, crioulos livres; os escravos Rodolfo Araújo Sá Barreto, mulato; Melônio, crioulo, e as africanas Maria Tereza, Benedita, Silvana… que estavam no local chamado Engenho Velho, numa reunião que chamavam de candomblé”.[4]
RETRATOS DO PRECONCEITO RACIAL E RELIGIOSO NO BRASIL - fotos 1[5] foto 2[6] foto 3[7]
Com a fundação dessas religiões, o povo negro no Brasil encontrou espaço para resgatar sua religiosidade, que outrora o povo branco os obrigava a renegar e esconder, calando os atabaques dentro das senzalas, apagando os braseiros das defumações e calando as rezas das vós benzedeiras. Com a chegada da “liberdade” recuperou-se a chance de cultuar novamente suas divindades, sua fé e suas crenças.
Se, por um lado, o “direito” ao culto religioso havia sido conquistado, ainda hoje vemos resquícios daquela época, aonde lamentavelmente o preconceito racial e religioso perduram, fomentando a intolerância e por vezes a agressividade, conforme fotos .
Espero que algum dia as almas negras possam ser de fato alforriadas e libertas de todo tipo de preconceito e imposição. Que o couro dos atabaques possa vibrar na energia do amor e que o perfume das ervas sagradas sopre o vento do respeito. Que as palmas dos terreiros ecoem novos tempos!
Renata Ap. C. de Seta
Funcionária Pública na FE
Terapeuta Holística por convicção e amor
[1] http://www.irdeb.ba.gov.br/tamboresdaliberdade/?p=1284#:~:text=O%20candombl%C3%A9%20como%20conhecemos%20hoje,dando%20origem%20ao%20nosso%20Candombl%C3%A9.&text=O%20culto%20aos%20orix%C3%A1s%20teve,o%20Brasil%20pelos%20negros%20iorubas. (18/fev/2021)
[2] Disponível em: https://www.diferenca.com/candomble-e-umbanda/#:~:text=Candombl%C3%A9%20%C3%A9%20uma%20religi%C3%A3o%20afrobrasileira,%2C%20e%20religi%C3%B5es%20afro%2Dbrasileiras. (18/fev/2021)
[3] Disponível em: https://ocandomble.com/2010/11/22/os-primeiros-terreiros-de-candomble/ (18/fev/2021)
[4] Disponível em: https://ocandomble.com/2010/11/22/os-primeiros-terreiros-de-candomble/ (18/fev/2021)
[5] Disponível em: https://esquerdaonline.com.br/2020/02/05/quebra-de-xango-o-racismo-e-a-intolerancia-religiosa-em-alagoas/ (18/02/2021)
[6] Disponível em: http://alexandrelomilodo.blogspot.com/2011/12/o-pau-comeu-no-terreiro-de-macumba.html (18/fev/2021)
[7] Disponível em: https://bahia320102myblog.wordpress.com/perseguicao-aos-terreiros-de-candomble-na-decada-de-1920/ (18/fev/2021)