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Renata Ap. C. de Seta | Atualizado em 15/06/2021 - 13:33 FE Publica

NEGRITUDE: A ANCESTRALIDADE E O PRECONCEITO

NEGRITUDE: A ANCESTRALIDADE E O PRECONCEITO

Ninguém parece ter dúvida de que o povo brasileiro é massivamente miscigenado. O Brasil, pré-formado por diversas etnias, traz consigo um universo de ancestralidade bastante rico e único.

A cultura brasileira é devedora de várias culturas, especialmente, a cultura africana, que perdura até os dias de hoje. Atualmente, a sociedade busca o resgate dessa ancestralidade.

Mais adiante iremos tratar das desigualdades culturais, mas por enquanto vamos introduzir o ponto destacando, brevemente, a transferência cultural dos povos africanos para as religiões afro-brasileira e brasileira.

O CANDOMBLÉ:

Segundo Rodrigues,[1] o Candomblé, fortemente representado na Bahia, também está presente em outras regiões do Brasil. A religião foi formada pela união de escravos de regiões diferentes em uma mesma senzala. Baseado no culto aos Orixás, Deuses da África  – que são divindades da Natureza, representando suas forças, é uma religião de caráter espiritualista e que apresenta conceitos de mediunidade e incorporação em seus rituais. Respeitando a tradição, realiza-se a imolação de animais em determinados rituais e raspagem de cabeça para os iniciados. Essas práticas são polêmicas, mas respaldadas pela lei.

A UMBANDA:

A Umbanda, religião genuinamente brasileira, com influência africana e católica, também cultua os orixás como forças da Natureza, onde cada divindade tem seu domínio: mar, mata, cachoeira etc. Manipula ervas e acredita no contato com a espiritualidade por meio da incorporação mediúnica. Essa religião foi fundada em 1908 por Zélio de Moraes, no Rio de Janeiro, e hoje se disseminou não só no Brasil, mas também em outros países do mundo. Fundada por um jovem branco da classe média carioca, a Umbanda abraçou e acolheu os menos favorecidos, os marginalizados, os pobres, ex-escravos e negros em geral. O povo africano pôde, depois de muito tempo, resgatar as suas raízes, a sua fé e a sua crença nos orixás. Seus fundamentos principais são: amor, caridade e humildade. Embora tenha mais de 100 anos, ainda sofre preconceito e intolerância, assim como acontece com o Candomblé. Existem muitas variantes dentro da religião. Cada doutrina adotou elementos diferenciados, mas os fundamentos básicos é o que determina o que é Umbanda. A influência católica se dá por meio do sincretismo religioso das divindades cultuadas, que são denominadas com termos africanos e nomes de santos católicos, com algumas variações regionais: Oxalá, Jesus Cristo / Xangô, São Bartolomeu / Oxossi, São Sebastião / Ogum, São Jorge / Iemanjá, Nossa Senhora da Conceição / Iansã, Santa Bárbara / Oxum, Nossa Senhora Aparecida  / Nanã Buruque, Sant’ana / Obaluaiê/Omulu, São Lázaro.

O site ‘diferença.com’ mostra bem as diferenças entre o Candomblé e a Umbanda:

“Candomblé é uma religião afrobrasileira, que foi trazida pelos africanos escravizados. Umbanda é uma religião brasileira que mescla elementos do catolicismo, espiritismo, e religiões afro-brasileiras.”[2]

Sobre o preconceito racial e religioso sofrido pelo povo negro, o site ‘ocandomble.com’ relata: “Por volta de 1826, a polícia da Bahia havia, no decorrer de buscas efetuadas com o objetivo de prevenir possíveis levantes de africanos, escravos ou livres, na cidade ou nas redondezas, recolhido atabaques, espanta-moscas e outros objetos que pareciam mais adequados ao candomblé do que a uma sangrenta revolução. Nina Rodrigues refere-se a certo quilombo, existente nas matas do Urubu, em Pirajá, “o qual se mantinha com o auxílio de uma casa de fetiche da vizinhança, chamada a Casa de Candomblé”.[3]
 

Um artigo do Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa Ilê Iyanassô: “Foram presos e colocados à disposição da polícia Cristovão Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, crioulos livres; os escravos Rodolfo Araújo Sá Barreto, mulato; Melônio, crioulo, e as africanas Maria Tereza, Benedita, Silvana… que estavam no local chamado Engenho Velho, numa reunião que chamavam de candomblé”.[4]

 

RETRATOS DO PRECONCEITO RACIAL E RELIGIOSO NO BRASIL - fotos 1[5] foto 2[6] foto 3[7]  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com a fundação dessas religiões, o povo negro no Brasil encontrou espaço para resgatar sua religiosidade, que outrora o povo branco os obrigava a renegar e esconder, calando os atabaques dentro das senzalas, apagando os braseiros das defumações e calando as rezas das vós benzedeiras. Com a chegada da “liberdade” recuperou-se a chance de cultuar novamente suas divindades, sua fé e suas crenças.

 

Se, por um lado, o “direito” ao culto religioso havia sido conquistado, ainda hoje vemos resquícios daquela época, aonde lamentavelmente o preconceito racial e religioso perduram, fomentando a intolerância e por vezes a agressividade, conforme fotos .

Espero que algum dia as almas negras possam ser de fato alforriadas e libertas de todo tipo de preconceito e imposição. Que o couro dos atabaques possa vibrar na energia do amor e que o perfume das ervas sagradas sopre o vento do respeito. Que as palmas dos terreiros ecoem novos tempos!

 

Renata Ap. C. de Seta

Funcionária Pública na FE

Terapeuta Holística por convicção e amor