ECKOUT: um olhar estrangeiro sobre o Brasil
Defendida em 2001. Faculdade de Educação UNICAMP.
Autor: Clarence José de Mattos
Orientadora: Maria da Glória Gohn.
O tema refere-se a um estudo sobre as pinturas humanas realizadas por
Albert Eckhout, pintor holandês, trazido por Maurício de Nassau, durante o período da
administração naussoviana (1637 -1644), Do grupo de naturalistas, médicos, pintores
coube a Eckhout realizar iconografia etnográfica sobre os habitantes do. Brasil no
século XVII, Eckhout realizou ainda estudos pictóricos de pássaros, frutas e animais
brasileiro do período.
A dissertação de mestrado vai tentar responder a importância da obra de Eckhout para a
construção do imaginário estrangeiro sobre a diversidade de tipos humanos existentes no
Brasil do século XVII Para isso, utilizarei nove (9) quadros: quatro sobre os tipos
masculinos, quatro sobre os tipos femininos e um quadro sobre a dança entre os tapuias,
Eckhout é considerado pelos profissionais da história das artes como o primeiro pintor
ameríndio, isto é, o primeiro a retratar tipos humanos nas Américas. A preocupação ou
ainda o desejo de Nassau com as pinturas sobre o Brasil era projetar-se na Europa como um
administrador capaz de liderar um conjunto de profissionais que pudessem satisfazer as
curiosidades dos europeus sobre o novo, o inusitado, o exótico. As representações
iconográficas deveriam orientar-se por estes parâmetros capazes de atrair o prestígio,
a consideração, a envergadura de um administrador que não se fixasse apenas na
obtenção de resultados econômico satisfatórios para a Cia das índias Ocidentais, mas
que fosse capaz de criar obras perpetuadoras de sua administração.
Isto posto, farei uma interpretação sobre os nove quadros eckhoutianos apontados acima,
considerando não só as finalidades do administrador mas também procurarei contemplar em
que medida as figuras humanas retratadas contribuíram para aguçar, admirar e montar, o
imaginário europeu da época sobre os trópicos, em particular, o Brasil. O trabalho
pretende pensar até que ponto as figuras humanas de Eckhout foram ao encontro dos sonhos,
desejos, fantasias e esperanças européias no século XVII sobre o Novo Mundo e o quanto
a representação desse Novo Mundo codificava á Europa a possibilidade se espelhar no
Outro (Novo Mundo) sua imagem invertida. Assim, diante de um mundo selvagem, inóspito,
seco, de paisagem rude e habitantes grotescos e rústicos, com poucos conhecimentos
científicos, com crenças primitivas e estágios menos avançados em relação ao Velho
Continente, a Europa se postulava e se legitimava frente a ela e ao outro (Novo Mundo)
como um agente civilizatório, empreendedor, com avanços científicos em crescimento
capaz de dar respostas às dificuldades de domar e dominar o diferente, o inferior, o
incivilizado, Frente a esta dicotomia - Incivilização X Civilização - a Europa se
compunha com elementos que pudessem definir e redefinir constantemente seu projeto
civilizatório, sua superioridade frente ao novo, ao diferente, ao inusitado como prática
de exercer sua supremacia cultural em relação às outras culturas