AS MÚLTIPLAS PORTAS DA CIDADE: A URBANIZAÇÃO DE CAMPINAS NA ROTA DA MODERNIDADE
Philippe Arthur dos Reis, Curador da exposição, Historiador, Doutorando em História (UNICAMP/Université de Strasbourg) e proponente do projeto Digitalização e informatização da Série 102 – Processos de licença para obras particulares de edificações.
A exposição estará aberta para visitação na Biblioteca Joel Martins da Faculdade de Educação da Unicamp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h45, no período de 16/08 a 15/09/2024.
Composta de sete painéis frente e verso, já passou pelo Paço Municipal de Campinas, Casa de Vidro, biblioteca da PUC-Campinas e outras bibliotecas da Unicamp: Central, Obras Raras e IFCH.
A seguir, algumas informações sobre a exposição, de autoria do curador.
O título e a exposição que aqui apresentamos vai ao encontro de um belo texto da historiadora Maria Stella Bresciani sobre as múltiplas portas que podemos abrir quando desejamos conhecer mais sobre as cidades, comparativamente às antigas cidades muradas, como Tebas, que possuía sete portas de entrada. Assim, a exposição “As múltiplas portas da cidade: a urbanização de Campinas na rota da modernidade” procura alinhar a história da urbanização da cidade conjuntamente a outras experiências que fizeram parte do projeto de renovação dos espaços urbanos do final do século XIX e início do século XX.
Seguindo esse caminho, destacamos duas dessas portas conceituais:
- A extraordinária Série 102 – Processos de licença para obras particulares de edificações, sob guarda do Arquivo Municipal de Campinas, e que foi nosso principal material de análise, serve de subsídio para vislumbrarmos os agentes ligados a uma cidade que procurava se modernizar, mas encontravam resistências nesse processo. Ou seja, as tensões, interesses, sonhos, contradições e projetos que foram idealizados naquele contexto nem sempre se realizaram, mas foram materializados pelas mãos de pessoas simples, com poucas ou médias quantias de dinheiro: negros libertos, imigrantes, professores, comerciantes, mulheres, homens, dentre outros.
- A segunda porta revela as perspectivas de como a “cidade das andorinhas” se inscreveu no projeto moderno, e estava alinhada ao que vinha ocorrendo em outras cidades, como o aumento do número de suas construções (muitas delas voltadas para a reforma e construção de habitações), a intensificação da imigração, os percalços que a comunidade negra enfrentou no pós-abolição, além do aumento da fiscalização sanitária, que buscava padronizar os modos de viver na cidade e conter as doenças que ali podiam aumentar.
Essa é um dos resultados do trabalho de digitalização e informatização da Série 102, um conjunto documental que remonta ao ano de 1893, quando se tornou obrigatória a apresentação de um requerimento e de planta para construções e reformas de edificações na cidade de Campinas, disponível em https://arq-camp.campinas.sp.gov.br/. Tais documentos, assinados por um interessado, que pode ser um proprietário do imóvel, um construtor ou mesmo um terceiro, nos auxiliam a desvendar questões do contexto urbano que ainda permanecem latentes no nosso cotidiano, e esperamos que com sua apresentação, possamos perceber como questões daquele contexto são pertinentes ao nosso tempo.
Essa mostra contou com o apoio do Programa de Ação Cultural (Proac) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, além da parceria do Arquivo Municipal de Campinas, importante instituição da memória e da gestão documental da cidade, além de diversos profissionais que estiveram envolvidos em uma série de outras atividades como o curso Campinas revisitada: História, memória e patrimônio cultural na construção da cidade; a organização do livro Arquivos e História: a cidade de Campinas e seus documentos; além de uma série de palestras e eventos voltados à divulgação da Série 102. Assim, convidamos todas as pessoas a lerem e decifrarem os documentos que aqui expomos, como requerimentos, plantas, ofícios e intimações, e refletirem sobre o papel dos seus agentes, do poder público e privado, das instituições e grupos que formam a diversidade de uma cidade como Campinas.