
A defesa da tese de doutorado da coordenadora da Biblioteca Prof. Joel Martins (BJM), vinculada à Faculdade de Educação da Unicamp (FE-Unicamp), Simone Lucas Gonçalves de Oliveira, evidenciou uma importante reflexão sobre o papel das bibliotecas universitárias na formação acadêmica, especialmente no curso de Pedagogia.
A pesquisa, orientada pelo Prof. Dr. Ezequiel Theodoro da Silva, identificou a necessidade de presença ativa das bibliotecas nas unidades acadêmicas, bem como seu uso cotidiano pelos discentes para o desenvolvimento da competência em informação, fundamental à formação docente. Esse papel é ainda mais relevante no contexto da BJM, criada em 1972, ano de fundação da Faculdade de Educação, que possui um acervo robusto e historicamente significativo.
A BJM reúne um rico acervo físico e digital, incluindo periódicos históricos e coleções especiais. São mais de 100 mil livros físicos, 300 mil fascículos de periódicos e materiais acadêmicos, além de coleções como a do sociólogo Maurício Tragtenberg, composta por 10 mil volumes. O acesso também é estendido ao público externo, o que amplia sua função social e educativa, favorecendo o desenvolvimento de habilidades como a busca, avaliação e uso crítico de informações.
Essa dinâmica está alinhada à proposta do Projeto Político-Pedagógico do curso de Pedagogia, que prevê a formação de professores pesquisadores. No entanto, segundo Simone, a BJM ainda não é integrada como eixo estruturante desse processo. Para que a biblioteca da FE se torne, de fato, um espaço ativo de formação investigativa, é fundamental promover uma maior articulação entre bibliotecários e docentes, com ações contínuas de competência em informação. A interseção entre a Educação, a Biblioteconomia e a Ciência da Informação pode impulsionar práticas pedagógicas mais investigativas, críticas e transformadoras, capazes de fortalecer a autonomia acadêmica dos estudantes.
“Acreditamos que a BJM pode ser muito mais do que um espaço de consulta — ela pode se tornar um verdadeiro centro de formação crítica e investigativa. Para isso, é fundamental que docentes e bibliotecários construam juntos estratégias pedagógicas que envolvam os estudantes em experiências significativas de pesquisa. O fortalecimento dessa parceria é o caminho para uma pedagogia mais potente, transformadora e comprometida com a produção de conhecimento”, afirmou Simone.
Em sua tese, a recém-doutora avaliou a relevância da biblioteca da FE para além de seu reconhecimento como centro de excelência de informação em Educação na América Latina. Com fontes curadas e confiáveis, a BJM enriquece a formação acadêmica em um momento no qual a desinformação e as fake news desafiam a Educação. “A biblioteca não é um mero depósito de livros, mas um espaço ativo de construção de conhecimento, onde os alunos devem aprender a navegar por informações complexas e desenvolver autonomia intelectual”, destacou Simone.

O Prof. Ezequiel Theodoro da Silva reforçou que o problema vai além do acesso físico ao acervo: trata-se de uma cultura educacional que, historicamente, marginaliza a biblioteca como ferramenta de aprendizagem. Enquanto em países como os Estados Unidos as bibliotecas são centrais desde a educação básica, no Brasil ainda predomina um modelo expositivo, em que o conhecimento é transmitido de forma passiva. “A pandemia, que poderia ter sido um momento de reinvenção, apenas escancarou essa fragilidade: mesmo com a ampliação dos recursos digitais, os estudantes não migraram para as plataformas, mostrando que a questão não é apenas tecnológica, mas pedagógica”, analisou o professor.
Diante desse cenário, a pesquisa propõe ações concretas, como a inclusão explícita da BJM no Projeto Político-Pedagógico do curso e a criação de um programa de competência em informação, em parceria com os docentes. A proposta é incentivar o uso ativo do acervo e estimular a pesquisa original, transformando a biblioteca em um espaço cotidiano de formação crítica. Como lembrou o Prof. Ezequiel: “a biblioteca é um tesouro à disposição de todos, mas só cumpre seu papel se for vivida e não apenas visitada”.
A tese da coordenadora da BJM, portanto, vai além de um diagnóstico: é um chamado à valorização da cultura da vivência na biblioteca no contexto universitário. Em um mundo saturado por informações superficiais e algoritmos, a capacidade de pesquisar com profundidade e discernimento torna-se cada vez mais urgente. Essa competência começa no contato direto com livros, artigos e espaços que guardam o conhecimento acumulado — e que, bem utilizados, têm o poder de transformação social por meio da educação.
Comunicação Institucional – FE/Unicamp
Redação e entrevistas: Erika Blaudt
Revisão: Giovanna Romaro
Imagens: Gildenir Carolino Santos e Fabiana Alves.