#poesia #escrita
a forma poética brasileira que diz muito sem dizer tudo…
A experiência com a aldravia me conduziu até aqui, na FE, onde faço doutorado em educação, pesquisando exatamente a potência dessa forma poética em ambientes escolares.. Foi ela que me ensinou a dizer muito com pouco. A buscar o mínimo necessário para que algo ressoasse. Mas também foi ela que me mostrou o limite entre criar sentido e apenas preencher espaços vazios. Entre poesia e performance.
No ano de 2010, um pequeno grão de poesia foi plantado. Um grupo de artistas em movimento na cidade de Mariana/MG, que desde o ano 2000 já promovia encontros e experimentações artísticas, criou a primeira forma poética genuinamente brasileira: a aldravia.
Essa forma poética, aparentemente simples e ao mesmo tempo potente, é composta por seis versos univocabulares, escritos na vertical. Segundo seus criadores, ela “busca propor uma escrita elaborada, mas simples; complexa de conceitos, mas referenciada com os universos discursivos em funcionamento nas sociedades; predominantemente indicial, mas suficiente para estabelecer comunicação e provocar sentidos” (DONADON-LEAL, 2018, p. 77).
De lá para cá, já são 15 anos de florescimento. As aldravias expandiram-se para diversas cidades e estados do Brasil e também para outros países. Brotam tanto em produções de artistas experientes quanto em criações de estudantes e professores, do ensino básico ao superior — em gestos de invenção que ressoam e se multiplicam.
O aldravismo, como proposição artística, inscreve-se no cenário da poesia contemporânea como uma novidade. Donadon-Leal (2016), afirma o frescor das aldravias e sua potencialidade discursiva, capaz de dar ao poeta e aos leitores liberdades:
A juventude das aldravias justifica sua fecundidade. Nascidas oficialmente em dezembro de 2010, as aldravias germinais foram jogadas como vírus no ar e contaminaram as mentes destituídas de anticorpoesia. Os sintomas imediatos dos que contraem o aldravírus são febre por síntese e vômitos de versos monovocálicos. (DONADON-LEAL, 2016, p. 14).
Segundo Donadon-Leal (2002; 2016), o aldravismo nasceu da discussão do signo polifônico e da formação dos conceitos.
Uma das marcas mais fortes da aldravia é sua capacidade de dizer muito com poucas palavras, frequentemente apoiando-se na metonímia. Em tempos em que tantas vozes são invisibilizadas e em que se tenta padronizar e silenciar a riqueza de nossa natureza social e afetiva, não é pouca coisa termos uma poesia capaz de condensar o essencial e fazê-lo ecoar.
A seguir, compartilho algumas de minhas aldravias:
aldravia
breve
vasta
plural
singular
convite
(Araújo, 2025)
kero-kero
amor
passarinho
você
meu
ninho
(Araújo, p. 77, 2019)
afiada
por
tanta
amolação
presente
protesto
(Araújo, p. 68, 2020)
flor
nas
mãos
carta
na
manga
(Araújo, p. 52, 2023)
exaltação
do
cio
esperança
enlaça
abraça
(Araújo, 2025)
As aldravias são, ao mesmo tempo, simples e complexas. Um convite à leitura, à escuta e também à criação.
Nas próximas postagens, seguiremos juntos explorando esse universo.
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Referências
DONADON-LEAL, J. B. Aldravismo: Reinvenção da arte pelo jornalismo. Mariana: Aldrava, Letras e Artes, 2018.
DONADON-LEAL, J. B. Aldravismo: a literatura do sujeito. Mariana: Aldrava Letras e Artes, 2002.
DONADON-LEAL. Palavra que lavra. In: MEIRELLES, Edir. Goiânia, Kelps, 2016.
ARAÚJO, Claydes R. R. In: LEAL, Andreia Donadon et al (org.). Eritis sicut dii: O livro VII das Aldravias. Mariana, Aldrava, Letras e Artes, 2019.
ARAÚJO, Claydes R. R. In: LEAL, Andreia Donadon et al (org.). Libertas Loquendi: O livro VIII das Aldravias. Mariana, Aldrava, Letras e Artes, 2020.
ARAÚJO, Claydes R. R. In: LEAL, Andreia Donadon et al (org.). Flores e essências: O livro 11 das Aldravias. Mariana, Aldrava, Letras e Artes, 2023.
ARAÚJO, Claydes R. R. In: LEAL, Andreia Donadon (org.). Ipês e Montanhas. Mariana, Aldrava, Letras e Artes, 2025.
ARAÚJO, Claydes R. R.. Produção autoral inédita. 2025.
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Claydes R.R. Araújo, Dutoranda na FE.