A história da leitura no Brasil tem, na Associação de Leitura do Brasil (ALB) e no Congresso de Leitura do Brasil (COLE), dois de seus capítulos mais significativos. Originários do desejo coletivo de pensar o país a partir da palavra, ambos mobilizaram gerações de professores, estudantes e pesquisadores em torno da ideia de que ler é também um modo de transformar o mundo.
Foi essa reflexão que norteou a mesa-redonda “Associação de Leitura do Brasil (ALB): memórias, histórias e legado”, realizada no Centro de Memória da Educação (CME) da Faculdade de Educação (FE-Unicamp), em 11 de novembro. O encontro, que também foi intermédio para a doação do Acervo da ALB e do COLE para o CME, reuniu os professores doutores Ezequiel Theodoro da Silva, Lilian Lopes Martin da Silva, Guilherme do Val Toledo Prado e Carlos Eduardo Albuquerque Miranda, protagonistas de uma trajetória que marca a educação e o pensamento sobre leitura no Brasil.
“Para nós foi uma honra recebermos os dois acervos, tanto para o desenvolvimento de pesquisas, dos projetos de extensão e para a preservação da memória da própria FE-Unicamp e Unicamp de uma documentação originada na nossa Unidade e que tem uma reverberação não só em Campinas e região, mas também internacionalmente”.
O Prof. Dr. Ezequiel Theodoro da Silva, um dos fundadores da ALB e do COLE, recordou que o primeiro congresso ocorreu em 1978, no Centro de Convivência Cultural de Campinas, reunindo 267 participantes. “O congresso nasceu de uma conjuntura que exigia reflexão sobre o ensino e o acesso à leitura em um país desigual. Desde então, tornou-se o maior evento da área, formando uma base sólida de pesquisa e consolidando o interesse nacional pelo tema”, afirmou.
Da força desse movimento, surgiria a ALB em 1983, impulsionada pelo mesmo ideal coletivo. “O congresso e a associação estimularam a criação de grupos e o desenvolvimento de pesquisas, consolidando o campo da leitura nas suas mais diversas abordagens”, completou o professor.
A Profa. Dra. Lilian Lopes Martin da Silva, considerada a “alma do COLE”, ressaltou a dimensão humana e comunitária do evento. “O COLE sempre teve uma ligação profunda com os alunos e servidores. Quando se aproximava, a faculdade inteira se mobilizava. Ver agora o acervo acolhido pelo Centro de Memória é como ver 43 anos de conquistas ganharem nova vida, disponíveis para qualquer pesquisador que queira conhecê-las e continuar essa história”, disse.
As professoras doutoras Inês Ferreira de Souza Bragança e Alexandrina Monteiro, responsáveis pelo Centro de Memória, destacaram o significado do acervo para a pesquisa e a extensão. “A documentação amplia o potencial investigativo e preserva a memória de algo que nasceu aqui e ganhou projeção nacional e internacional. Agora, com os materiais da ALB e dos últimos COLEs, teremos um conjunto mais completo, que poderá ser catalogado e disponibilizado ao público”, explicaram.
Mais do que uma doação, o gesto simboliza continuidade. O acervo agora abrigado no CME guarda não apenas registros de eventos, mas o testemunho de uma rede de afetos, ideias e práticas que ajudaram a construir a história da leitura no Brasil — e que podem inspirar novos movimentos.
“Há uma expectativa grande de retomar o COLE. É algo necessário, especialmente diante das novas formas de leitura e interação com o texto que emergem hoje”, reforçaram as professoras do Centro de Memória, Inês e Alexandrina.
O encontro, promovido pelo Centro de Memória da Educação, com apoio da Faculdade de Educação da Unicamp, reuniu docentes, estudantes e pesquisadores interessados em refletir sobre o legado da ALB e do COLE. Realizada no Auditório Maurício Tragtenberg e transmitida ao vivo pelo canal do CME no YouTube, a mesa integrou as ações do Centro voltadas à preservação da memória educacional e à promoção de debates sobre o papel da leitura como prática formadora e socialmente transformadora.
