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A MINHA EXPERIENCIA ACADÊMICA DURANTE A PANDEMIA

Vou contar aqui um pouco da minha experiência acadêmica vivida durante esse contexto de pandemia, com intuito de compartilhar parte de minha vivência cotidiana, meus desafios e as minhas estratégias construídas para enfrentar esse tempo difícil.

Enfrentamos um tempo caótico, onde cada ser humano procura uma estratégia para tentar minimizar os problemas causados por essa pandemia, impactando nossa saúde, nosso dia a dia. Sei que muitas pessoas estão enfrentando piores situações por falta de alimentação e de dinheiro para sustentar as suas famílias. Uma grande maioria das pessoas foi dispensada de seus trabalhos, por causa das crises causadas por essa pandemia. De acordo como a minha vivência, eu sei que não tem sido fácil viver nesse tempo.

Aqui contarei um pouco da minha experiência antes e durante a pandemia, especificamente relacionada à vida acadêmica. Iniciei meus estudos na Unicamp no dia 25 de fevereiro de 2020. Tudo parecia transcorrer bem, nessa primeira semana de vida universitária. Eu tentava conhecer a área física na universidade, encontrando e interagindo com pessoas e colegas de vários lugares do Brasil, buscando me adaptar e adotar uma forma de conviver, de me comportar frente às minhas expectativas e aos meus objetivos. Como sou indígena, não é tarefa  muito simples mudar de uma hora para outra, e de adotar essa convivência inédita, no mundo ocidental. Mas eu estava muito firme e confiante para encarar essa nova vida.

No início, estava um pouco difícil para me adaptar ao regulamento da universidade, de conviver com as pessoas de diferentes línguas, hábitos e costumes. Comparando com a minha realidade, era tudo diferente. Eu também estava com saudade da minha família. Mesmo sendo adulto, maior de idade, tenho saudade de casa, mas persisto com o pensamento de que vou seguir em frente e não vou voltar atrás.

Tive sentimentos e pensamentos relacionados à desistência da universidade. Eu não estava conseguindo lidar muito bem com essa nova realidade. Mas isso aconteceu apenas nos primeiros momentos, depois, à medida que o tempo foi passando, fui me acostumando, conhecendo os colegas e a vida foi se ajeitando. Foram os colegas os que mais me incentivaram a permanecer e afirmar a decisão de seguir em frente, firme e forte, e não pensar mais em voltar para casa.

Depois de tanto luta na minha vida para chegar até a universidade, fomos surpreendidos pela Pandemia Covid-19 e, por causa dela, as coisas mudaram um pouco e me causaram desânimo. Mas coloco na minha mente que tudo vai dar certo, que não cabe desperdiçar esse oportunidade de estar na Universidade, um lugar em que a maioria das pessoas não conseguem chegar e permanecer. Saber disso, fez eu valorizar ainda mais o que estava acontecendo. Na verdade, isso me deixou mais forte para enfrentar qualquer situação que virá durante essa longa caminhada de estudo universitário.

No primeiro dia de aula foi muito bom, eu estava ansioso para saber como que iria ser a aula na universidade. Como venho da escola indígenas, que é chamada escola diferenciada, e nunca tinha estudado numa escola ou universidade da cidade grande ou mesmo em um local fora do estado ou do meu município. Tudo aconteceu na minha vida dentro da região onde nasci.

Finalmente, chegou a hora de apreciar a primeira aula. Nesse primeiro dia, praticamente apenas recebemos  orientações dos (as) professores (as) e dos (as) veteranos (as) do curso. Enfim, era uma semana de integração e adaptação. Mas alguns professores já repassaram conteúdos e planejamentos, isto é, como seriam as aulas e atividades durante o primeiro semestre de 2020.

Então, comecei a fazer meu planejamento, como eu iria estudar, porque era um pouco mais difícil para mim, pois venho de outra realidade escolar. Também não sou muito familiarizado com o uso de equipamentos eletrônicos, o que me levou a recorrer à ajuda dos meus colegas de curso, inclusive para me orientar na hora de tirar dúvidas. Eu perguntava: como a gente faz aquilo? E isso? O que precisa ser feito? Como organizar o  tempo para estudar? Como usar essas plataforma digitais e aplicativos? Como fazer para enviar o trabalho e acessar conteúdos no gmail? Onde estão reunidas todas essas informações e tudo mais que eu preciso?

Naquele período estava tudo normal, parecia que estava indo tudo certo na primeira semana de aula. Mas já tinha visto na TV que tinha uma doença inédita na China. Para mim parecia que era só mais uma informação jornalística. Eu nunca pensei que essa pandemia afetaria milhões de pessoas, inclusive causando muitas mortes. Também pensei que ela nunca chegaria ao Brasil. Mas, ela chegou e tive a notícia que havia um primeiro caso de Covid-19 dentro da universidade.

Eu, praticamente, nunca pensei que a Covd-19 iria causar tantos problemas. Depois que recebermos a informação que a universidade estava suspendendo aulas, atividades administrativas presenciais, para evitar a multiplicação de infecção da doença na universidade. Tudo isso era inacreditável. Então, a Unicamp determinou que todos nós ficássemos em casa durante quarenta dias. Parecia que iria acabar brevemente e logo voltaríamos às condições normais. Ninguém esperava que afetaria milhões de pessoas, que todos podíamos ser vítimas dessa doença, e milhões de pessoas morreriam pelo mundo inteiro.

A pandemia do coronavírus se espalhou rapidamente pelo Brasil. Por causa disso, o prazo para voltar a estudar presencialmente acabou sendo prolongando mais e mais, até esse momento em que escrevo este relato em julho de 2021.

Devemos ficar atentos às determinações universitárias, como o isolamento social, para não sermos contaminados pelo vírus, ainda que muitos foram contaminados da mesma forma. Tive que mudar todo o meu planejamento escolar de antes da pandemia para me adaptar às aulas remotas e acabei tendo muitas dificuldades no início, especialmente, para usar a plataforma digital, acessar o e-mail institucional, usar aplicativos, como o Moodle, Classroom, entre outros. Na verdade, eu nunca tinha estudado de forma remota (online), tudo para mim era totalmente novo.

Num primeiro momento, eu tive muita dificuldade de acessar o Classroom e o Moodle. Minhas experiências escolares, onde vivi, na minha região do alto Rio Negro/AM, não estavam voltadas para esse tipo de ensino por meio da internet. Então, aprendi de outra maneira. Como tenho dificuldades no manuseio das plataformas on-line, pedia ajuda dos meus colegas para poder me orientar. Mas o tempo foi passando, e comecei aprendendo a utilizar os recursos tecnológicos nas aulas e também a me adaptar a essa forma de ensino, conhecendo dia a dia o funcionamento das plataformas digitais. Assim foi ficando cada vez mais fácil no decorrer desse período. Por fim, essa experiência vivida durante a pandemia foi muito legal, e aprendi várias coisas que nunca tinha experimentado antes, principalmente acompanhar aulas remotamente.

Durante o primeiro semestre de 2020, fiquei em Campinas-SP, na moradia estudantil da Unicamp, estudando longe da minha família. Depois, decidi retornar para o Amazonas para ficar dos meus parentes, para poder ficar mais seguro e mais tranquilo, pois estando longe minhas preocupações eram grandes e agora diminuíram, estando mais próximo deles. Assim o tempo foi passando até o final do segundo semestre de 2020.

Atualmente, continuo perto da minha família, enfrentando juntos os desafios, e acompanhando as aulas online. Busco sempre construir algumas estratégias para enfrentar essa pandemia, bem como superar os obstáculos que estão pairando sobre nós, sobre toda humanidade do planeta.

Sei que a pandemia tem causado muito estresse, desespero e pensamentos negativos, incomodando a todos por conta dos acontecimentos terríveis. Quando estava longe da minha família, fiquei muito desesperado pensando o que poderia acontecer com eles, como eles estavam vivendo esse momento de caos etc. Mas nunca perdi a fé de que voltaria a rever todos os meus familiares.

E isso aconteceu como eu havia planejado: quando retornei para o Amazonas, especificamente aqui no município de São Gabriel da Cachoeira/AM, todos da minha família estavam muito bem, pois ninguém tinha sido afetado gravemente por essa doença causada pelo coronavírus.

Conforme, mencionei aqui texto, tentei organizar tudo de forma mais tranquila, procurando estratégias para planejar meu tempo de estudos, buscando métodos que seriam adequados para estudar durante esse tempo de pandemia. Acabei retomando alguns estratégias que tinha aprendido na Unicamp, junto com os professores e meus colegas, algo que eu gostaria de relacionar aqui, tais como:

  1. planejar;
  2. estabelecer estratégias e metodologia;
  3. organizar tempo para resolver problemas e procurar possibilidades e estratégias diversas para a resolução de problemas;
  4. montar horários específicos para realização de qualquer atividades, envolvendo todas atividades a serem executadas durante o dia a dia;
  5. organizar estudo individual, de lazer e de descanso, para não ficar muito estressado, para não tentar ser dominado pela ansiedade, especialmente, nesse tempo de pandemia;
  6. organizar agenda semanal para não ficar perdido no que eu faço:
  7. pedir ajuda, se for preciso, para professores, monitores e colegas.

 

Mesmo com esse planejamento, algumas vezes eu não consigo cumprir  todas as demandas e acompanhar diretamente aulas. Enviar trabalho no horário estabelecido pelos professores também é uma dificuldade, devido aos problemas de conexão com a internet. Na região Norte, principalmente onde estou vivendo hoje, o sinal de internet é sempre lento. Logo, eu consigo acompanhar parcialmente as aulas, bem como ver, com alguma dificuldade, os vídeos-aula postados no Moodle e Classorom. Mas quando o sinal de internet está forte, tento me organizar para acompanhar tudo da forma melhor possível.

Como a disseminação e contaminação do coronavírus continua afetando as pessoas, ninguém sabe quando isso vai acabar. Possivelmente, só daqui há alguns anos. Eu continuo firme e forte, focando na estratégia que vinha dando certo ultimamente no meu planejamento, levando em conta as metodologias aprendidas. Buscando ficar cada vez mais preparado para enfrentar essa pandemia e as dificuldades que essa doença está causando. Como já enfrentei vários problemas e desafios que essa pandemia causou, tanto na vida acadêmica quanto na saúde, não apenas eu, mas milhares de pessoas, acredito que seja hora de começar a lidar com tudo isso, de se responsabilizar com tudo o que aconteceu e o que vai acontecer ainda, pois coisas piores podem ainda ocorrer. Tentar colocar na mente que tudo vai acabar em breve, e que sempre dará certo.

Portanto, essas são um pouco das minhas experiências dentro e fora da universidade no tempo de pandemia. Tenho certeza absoluta que nunca serão esquecidas. Elas ficarão na minha memória tudo o que aconteceu, não só as perdas, mas aquilo que eu aprendi também. Sei que não é fácil para cada um de nós, porque causou muito desespero, incertezas, dificuldades, para todas as pessoas. Enfim, a cada minuto que passa, eu sempre reflito sobre como será o meu futuro. Como será depois que tudo isso passar. Pergunto-me: será que tudo vai mudar? Ou vai continuar a mesmo?

Em suma, posso dizer que as minhas experiências desses  tempo foram boas, pelas coisas que eu aprendi, e também ruins, por causa das pessoas conhecidas que perderam a vida.

Estou tentando superar os desafios, procurando alinhar a minha mente, para não ser levado a desistir do meu sonho. A cada dia tento me organizar para acompanhar as aulas online. No entanto, já me adaptei ao ensino remoto, sofro sempre com a internet lenta, mas não penso mais em desistir e vou seguir em frente até onde puder.

 Eu estou torcendo para que dê tudo certo e que eu consiga superar obstáculos e desafios, tanto no estudo como também na saúde. E espero que cada um de nós tenha consciência positiva sempre, e continue torcendo para que tudo volte a se normalizar em breve. Eu não vejo a hora de retornar aos estudos presenciais, interagir com os professores e com meus colegas indígenas e não indígenas, para que a vida possa seguir.

 

 

Demetrio F. Gulherme

FE/ Faculdade de Educação/Unicamp

Bolsista SAE/Biblioteca Prof. Joel Martins

 

Palavras-chave: Pandemia; Vida Acadêmica; Experiência Estudantil

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