Quanta piedade sinto de tu, pobre louca
Que por essa camisa de força és atada.
Negam-lhe todas experiências da vida
E a Ordem do mundo não é abalada.
Quanta piedade sinto de tu, homem de bem
Que pelo terno das conveniências foi amesquinhado.
A rotina lhe esmaga no suplício dos anônimos
E sua triste resignação faz o mundo normalizado.
Mas sua camisa de força, desvairada amiga
Subtrai a dignidade que lhe é inerente.
Qual ferro que ao pobre gado faz estigma
A você marca como miserável gente.
O que dizer da gravata de seu terno, sensato amigo?
Que sufoca seu ar e a vivacidade lhe suprime.
Trazendo ao seu rosto uma palidez de gente comum
Marca-lhe como uma ovelha privada do Sublime.
Demasiadamente apertada é sua camisa força, triste doida
Que lhe priva dos movimentos e lhe rouba a liberdade.
Destarte seu corpo não segue os ditames do seu querer
De modo que possas viver experiências de verdade.
Tampouco são frouxas as mangas de seu terno, senhor ajuizado
Que oprimem veias e retém o quente sangue com perversidade.
Sua alma reclama ao corpo as sensações mais elevadas
Mas o aperto moral obstrui as experiências da sua Verdade.
Suas razões são assaz perturbadoras, dama da loucura
Tais quais um espelho que revela minhas próprias aflições.
Das minhas íntimas gavetas retiro conclusões aterradoras
Que eu visto a camisa de força das habituais convenções.
Enfim te livraste desse traje a rigor, lúcido irmão
E sua nudez é um vão para espreitar sua Natureza.
Lhe farão por camisas de forças temendo suas Verdades
Mas sua alma está livre e se agasalhou da Beleza.
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Herivelton Fabiano Zanotto, Servidor da FE/Unicamp – Apoio Administrativo – Administração Predial
Palavras-chave: Poema, Cotidiano