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EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO COMO FERRAMENTA DEEMANCIPAÇÃO: Uma Articulação entre Vieira Pinto, Marx, Marilena Chauí e Freire

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Resumo:

Este artigo busca articular os conceitos de desigualdade (Marilena Chauí)
e consciência (Álvaro Vieira Pinto), com os conceitos de sociedade de classes (Karl
Marx), com a consciência de classe e a pedagogia crítica de Paulo Freire,
aplicando-os à análise da sociedade de consumo, do consumismo e das relações
de consumo. O objetivo é demonstrar a necessidade de um estudo acadêmico mais
aprofundado que desenvolva metodologias de Educação para o Consumo no ensino
formal e não formal, visando a formação de sujeitos críticos e emancipados.


Introdução:

Necessidade de estudos sobre Educação para o Consumo
A sociedade capitalista, estruturada em classes sociais antagônicas (MARX,
1867), reproduz desigualdades materiais e simbólicas (CHAUÍ, 2000) que se
ampliam na lógica do consumo. Nesse contexto, a consciência (VIEIRA PINTO,
1960) – enquanto percepção crítica da realidade – e a consciência de classe – como
reconhecimento da posição no modo de produção – são fundamentais para a
superação da alienação. Paulo Freire (2016), em Pedagogia do Oprimido,
demonstra que a educação libertadora é um caminho para a transformação social.
Tendo em vista que atualmente não há um modelo e tampouco diretrizes
para aplicação da Educação para o Consumo no Ensino Formal e que na Educação
Não-formal realizadas pelos órgãos de defesa do consumidor não há uma
padronização de métodos e conteúdos e não foi possível encontrar registros de
modelos que evidenciem os mecanismos de exploração inerentes ao consumismo.
Diante disso, propõe-se uma reflexão sobre a importância da Educação para
o Consumo para formar indivíduos conscientes de suas escolhas e dos mecanismos
de exploração inerentes ao sistema capitalista.


Consciência de Classe
Antes de adentrarmos no conceito de Consciência de Classe, é necessário
compreender os conceitos sobre consciência definidos por Vieira Pinto. Ele
distingue entre “noção de consciência”, entendida como a representação mental da
realidade exterior e de si mesmo (autoconsciência); “consciência ingênua”, que não
percebe os condicionamentos objetivos que determinam seu modo de pensar; e a
que utilizaremos na sequencia do artigo: “A consciência crítica é a representação
mental do mundo exterior e de si, acompanhada da clara percepção dos
condicionamentos objetivos que a fazem ter tal representação. Inclui
necessariamente a referência à objetividade como origem de seu modo de ser, o
que implica compreender que o mundo objetivo é uma totalidade dentro da qual se
encontra inserida.” (VIERA PINTO – 1993 – pags. 59-60)
Marilena Chauí discute a desigualdade como um elemento estrutural e
permanente da sociedade, reproduzido historicamente sob novas formas. Em suas
obras, como Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária, ela demonstra como as
desigualdades são naturalizadas para legitimar a dominação. Segundo Chauí, “a
sociedade brasileira é marcada por uma desigualdade estrutural, que não é residual,
mas constitutiva. Ela não resulta de falhas ou deficiências, mas é produzida e
reproduzida pelas relações sociais, econômicas e políticas que organizam nossa
vida coletiva” (CHAUÍ, 2000, p. 45). Portanto, a desigualdade estrutural é intrínseca
ao capitalismo e a outras sociedades baseadas em classes, sustentando privilégios
para poucos e exclusão para muitos, com a ajuda de discursos que a apresentam
como inevitável.

Já Marx, em O Capital, define a sociedade de classes a partir das relações de
produção capitalistas: “Os proprietários de mera força de trabalho, os proprietários
de capital e os proprietários de terra […] constituem as três grandes classes da
sociedade moderna baseada no modo de produção capitalista” (MARX, 1867).
Com base nisso, podemos definir consciência de classe como a
compreensão crítica que os indivíduos têm de sua posição nessa estrutura,
reconhecendo as desigualdades como produtos do sistema e não como naturais.
Enquanto um trabalhador com consciência ingênua culpa a si mesmo por suas
condições, aquele com consciência de classe percebe que sua exploração é
resultado de uma lógica sistêmica e que a ação coletiva pode transformá-la.


Sociedade de Consumo e Consumismo
Em A Sociedade de Consumo (1970), Jean Baudrillard analisa a sociedade
contemporânea como um sistema centrado no consumo, no qual os objetos
assumem valor simbólico, servindo como signos de status e identidade: “o consumo
é hoje uma espécie de linguagem, um sistema de comunicação” (BAUDRILLARD,
1970). Ele critica a noção de consumo como escolha livre, argumentando que é uma
imposição do sistema produtivo, mediada pela publicidade, que cria desejos
artificiais: “A sociedade de consumo não vende objetos, mas imagens, sonhos e
promessas” (BAUDRILLARD, 1970). Baudrillard também aponta a ilusão de
diversidade, destacando a padronização dos comportamentos e a insatisfação
perene em um ciclo infinito de consumo.

O Consumismo, por sua vez, é abordado como um comportamento social de
consumo excessivo, articulado à crítica de Baudrillard. Zygmunt Bauman o associa
às sociedades líquido-modernas, onde “a satisfação não está no possuir, mas no
desejar e no descartar” (BAUMAN, 2007, p. 12), gerando um ciclo de insatisfação
constante. Naomi Klein, em Sem Logo (2002), enfatiza o papel das marcas na
construção de identidades: “as corporações não vendem produtos, vendem estilos
de vida” (KLEIN, 2002, p. 28). Em síntese, o consumismo transforma o consumo em
um valor central, sustentado por desejos manipulados e marketing, como conclui
Bauman: “na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem
primeiro virar mercadoria” (BAUMAN, 2007, p. 15).

Pedagogia do Oprimido e Conscientização de Classe
Paulo Freire explica simplificadamente a Pedagogia do Oprimido no excerto a
seguir:
“A pedagogia do oprimido é aquela que deve ser elaborada com ele e não
para ele, enquanto homem ou povos, na luta incessante de recuperação de sua
humanidade.” (FREIRE, Paulo. 2016, p. 47.)
Na mesma obra Freire afirma que:”A conscientização é um processo histórico-crítico
que implica não apenas reconhecer a opressão, mas engajar-se na práxis para
superá-la.” (FREIRE, Paulo. 2016)
Essa ideia dialoga com a noção marxista de consciência de classe, em que os
trabalhadores, ao reconhecerem sua exploração, organizam-se para transformar a
realidade. Publicações recentes reforçam essa conexão:
“A pedagogia freireana, ao problematizar as relações de poder, fornece as
bases para uma educação que desperta a consciência crítica das classes oprimidas,
conduzindo-as à ação política organizada.” (SAVIANI.2020. p. 89)
“A conscientização de classe, na perspectiva freireana, não é um mero
discurso ideológico, mas um ato pedagógico-político que emerge das experiências
concretas dos explorados.” (NOGUEIRA. 2021. p. 112)

“A Pedagogia do Oprimido e a teoria marxista da luta de classes convergem na
medida em que ambas entendem a educação como instrumento de desvelamento
da exploração e de mobilização coletiva.” (OLIVEIRA. 2023. p. 56)
Sendo assim, podemos concluir que a Pedagogia do Oprimido e a conscientização
de classe estão intrinsecamente ligadas, pois ambas partem da crítica às estruturas
opressoras e defendem que a educação deve ser um ato político de libertação.
Enquanto Freire enfatiza o diálogo e a problematização da realidade, a tradição
marxista reforça a necessidade de organização coletiva. Juntas, essas perspectivas
oferecem um caminho para a transformação social a partir da educação crítica.
Conclusão:
Ao articular os conceitos de consciência crítica (Vieira Pinto), desigualdade
estrutural (Chauí), sociedade de classes (Marx), sociedade de consumo (Baudrillard,
Bauman, Klein) e pedagogia libertadora (Freire), este texto demonstra que a
Educação para o Consumo não pode ser reduzida a orientações técnicas sobre
direitos do consumidor. Ela deve ser uma ferramenta de emancipação, capaz de
desvelar os mecanismos de exploração do capitalismo e formar sujeitos críticos,
conscientes de sua posição na estrutura social e das manipulações inerentes ao
consumismo.
No entanto não há modelos ou diretrizes consolidados para sua aplicação no
ensino formal ou não formal. As iniciativas existentes, muitas vezes fragmentadas,
não problematizam suficientemente a alienação consumista nem articulam a
consciência de classe com as práticas cotidianas de consumo. Isso revela uma
lacuna teórica e metodológica que precisa ser superada para que a Educação para
o Consumo cumpra seu potencial transformador.
Diante disso, entendemos ser necessário: sistematizar diretrizes pedagógicas
para a Educação para o Consumo, integrando as contribuições da filosofia,
sociologia crítica e pedagogia freireana; Desenvolver modelos educativos que
evidenciem as relações entre consumo, exploração capitalista e desigualdade
estrutural, superando abordagens meramente instrumentalizantes; Analisar
experiências existentes no ensino formal e em órgãos de defesa do consumidor,
para identificar práticas emancipatórias e propor padronizações críticas; Elaborar
metodologias de ensino que visem a conscientização que articulem a crítica ao
consumismo com a organização política, seguindo o legado de Freire e Marx.
Assim propomos o início de uma discussão acadêmica para que a Educação
para o Consumo contribua para a formação de sujeitos autônomos, capazes de
intervir criticamente na realidade, sendo assim um passo fundamental na construção
de uma sociedade mais justa e menos alienada.

Referências Bibliograficas:


CHAUI, Marilena. Ideologia e educação [1980]. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 42, n.1, p. 245-257, jan./mar. 2016.VIEIRA PINTO, Álvaro. 1o tema: O conceito de educação. In: _.
Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo: Cortez, 19993, p. 29-40.

VIEIRA PINTO, Álvaro. Consciência e Realidade Nacional. 1960.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 2000.

MARX, Karl. O Capital. 1867.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 2016.

CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária. 2000.

BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. 1970.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo: A transformação das pessoas em
mercadoria. 2007.

BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida. 2008.

KLEIN, Naomi. Sem Logo: A tirania das marcas em um planeta vendido.2002.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações.
2020.

NOGUEIRA, Marco Aurélio. Paulo Freire e a Educação como Prática da
Liberdade. 2021.

OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Freire e Marx: Educação e Consciência de
Classe no Século XXI. 2023.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. 2007.

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Cléber de Oliveira Silva,
é Estudante da graduação em Pedagogia na FE/UNICAMP, Trabalhador do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e Estudante de Ciências Econômicas na Anhanguera Educacional

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