Publicado originalmente em: Esquerda Diário/Ideias de Esquerda – https://esquerdadiario.com.br/Nora-Krawczyk-a-implementacao-das-escolas-civico-militares-e-uma-forma-de-privatizar-a-escola
Ideias de Esquerda: Em recente artigo assinado por você e pela Marcia Jacomini, vocês dizem que há uma “blitzkrieg” de Tarcísio contra a educação, um termo que é utilizado para expressar uma tática militar ofensiva. Você pode explicar o que vocês querem dizer com o uso desse termo?
Nora Krawczyk: O termo “blitzkrieg” refere-se a uma doutrina militar que se caracteriza por ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tenham tempo de organizar sua defesa. Esta é a tática utilizada por Tarcísio e Feder para implementar a privatização da escola pública no estado de São Paulo. Todos os dias aparece uma nova privatização de algum bem público do Estado, num ritmo e sem debate público sem precedentes, às vezes até de forma sigilosa.
No caso da educação, é um conjunto de mudanças que pretende ressignificar o sentido público da escola, deixando a comunidade escolar sem margem de manobra para promover uma escola pública democrática, reflexiva, que ofereça as ferramentas e os conhecimentos para que o estudante questione sua condição social e que é passível de mudanças.
A escola pública está sendo atacada através de diferentes frentes: no interior da escola e na gestão do sistema educacional estadual. No artigo ao qual vocês se referem, nós analisamos duas das políticas de privatização da escola pública que estão em implementação: o que chamamos de plataformização da gestão e processo de ensino aprendizagem e o leilão das escolas públicas na bolsa de valores. Mas, sem dúvida, podemos nos referir a outras: as parcerias para oferecer a educação técnico-profissional, a expansão das escolas cívico-militares, as mudanças na carreira docente, entre outras.
IdE: Sobre o processo de plataformização na educação, vocês afirmam que a imposição do uso de plataformas padroniza o processo pedagógico e que há uma intensificação do controle do trabalho docente. Quais são os efeitos disso para o trabalho pedagógico do professor e para a aprendizagem dos estudantes?
Nora Krawczyk: É importante esclarecer que não se fala de uso da tecnologia como recurso didático a serviço de um projeto educativo definido pelo conjunto dos professores da escola. O uso da tecnologia entrou nas escolas para adequar a educação escolar à plataformização do ensino e da gestão a serviço das corporações.
Essa tem sido a política na qual a atual Secretaria tem se realmente empenhado. As escolas paulistas receberam este ano um pacote digital coordenado pelo Centro de Mídias (CMSP) com 11 plataformas digitais para uso de professores e estudantes.
O CMSP proporciona aulas digitais dos componentes (a nova nomenclatura para as disciplinas) da Formação Curricular Básica para que os professores as projetem no lugar de ensinar a partir de metodologias próprias, e um conjunto de atividades no formato de questões objetivas que os estudantes recebem diretamente pelo aplicativo para responder nas suas casas no prazo de dois dias após a realização da aula correspondente. As tarefas são corrigidas pela própria plataforma e compõem o processo avaliativo e a nota do bimestre atribuída pela inteligência artificial. (…)
Leia a entrevista na íntegra clicando aqui!
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Profa. Dra. Nora Krawczyk,
Docente e membro do Grupo de Pesquisa em Política Educacional, Educação e Sociedade (GPPES); Coordenadora da Secretaria de Pesquisa e Divulgação Científica da FE/Unicamp;
Blog: https://noraunicamp.blogspot.com/
Palavras-chave: EDUCAÇÃO, escolas cívico-militares, PRIVATIZAÇÃO DA ESCOLA, privatização, escola pública