Uma história real
Uma criança filha de pais separados. O pai, negro da pele retinta. A mãe, branca. A filha, negra da pele clara. Essa criança cresceu com a mãe, tendo contato majoritariamente com a família materna, repito, branca. Via o pai esporadicamente. Quanto a família paterna, parte negra da família: pouco contato, poucas lembranças. Seus referenciais eram brancos. E a escola? Nada. Seus ancestrais? Escravos.
Tudo parecia bem. A Calourada Indígena tinha acontecido dias antes e havia também o ânimo dos estudantes não indígenas que comemoravam a entrada na universidade. Pelas escadas da Faculdade de Educação, mais movimentadas que de costume, sempre surgia alguém perdido procurando a sala tal. Pelas áreas abertas do campus, vira e mexe passava um grupo fazendo algum trote com seus calouros.
Quem nunca formou uma opinião sobre determinado assunto a partir do que ouviu de terceiros, que jogue a primeira pedra. Ninguém está isento de construir opiniões baseadas no que ouve e o que nos difere uns dos outros é o modo no qual lidamos com tais informações. Segundo Fiorin, “O enunciador, para constituir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, não está presente no seu, por isso todo discurso é inevitavelmente ocupado, atravessado pelo discurso alheio” (2006, p. 22).