Uma história real
Uma criança filha de pais separados. O pai, negro da pele retinta. A mãe, branca. A filha, negra da pele clara. Essa criança cresceu com a mãe, tendo contato majoritariamente com a família materna, repito, branca. Via o pai esporadicamente. Quanto a família paterna, parte negra da família: pouco contato, poucas lembranças. Seus referenciais eram brancos. E a escola? Nada. Seus ancestrais? Escravos.
Tudo parecia bem. A Calourada Indígena tinha acontecido dias antes e havia também o ânimo dos estudantes não indígenas que comemoravam a entrada na universidade. Pelas escadas da Faculdade de Educação, mais movimentadas que de costume, sempre surgia alguém perdido procurando a sala tal. Pelas áreas abertas do campus, vira e mexe passava um grupo fazendo algum trote com seus calouros.
Quem nunca formou uma opinião sobre determinado assunto a partir do que ouviu de terceiros, que jogue a primeira pedra. Ninguém está isento de construir opiniões baseadas no que ouve e o que nos difere uns dos outros é o modo no qual lidamos com tais informações. Segundo Fiorin, “O enunciador, para constituir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, não está presente no seu, por isso todo discurso é inevitavelmente ocupado, atravessado pelo discurso alheio” (2006, p. 22).
Há três meses, no dia 9 de maio de 2021, muitas mães receberam carinho e lembranças de seus filhos e filhas, parentes, amigos e amigas. Mãe é a figura central na vida de muitos de nós, por seu acolhimento, nos ensinando como a vida pode ser difícil muitas vezes, mas mostrando que, com muita luta, podemos sempre mais.
Hoje vamos conhecer Adriana Lopes Limeira, a mãe e a estudante do 56.
Este texto se estrutura em três partes. Na primeira, faço um relato íntimo de vivências e experiências sobre os impactos da pandemia no meu cotidiano e no cotidiano de minha família. Na segunda parte, discorro sobre as principais linhas de força temáticas dos livros minimus, de Alciene Ribeiro, e brevíssimos, de Rauer. Os dois livros dividem um único volume, lançado pela Editora Pangeia em 2020, com o título de minimus & brevíssimos.