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Institucional

COPENE Sudeste é sinônimo de resistência a pesquisadores negros

Congresso reuniu docentes e estudantes da Unicamp em debates sobre educação, ações afirmativas e combate ao racismo.

O VI Congresso de Pesquisadoras(es) Negras(os) da Região Sudeste (COPENE Sudeste) emerge como uma instância essencial de afirmação e debate. Realizado entre 25 e 27 de setembro, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o evento concentrou reflexões sobre “Precioso Ouro Negro: educação, ações afirmativas e combate ao racismo”, reunindo docentes e 24 estudantes da Unicamp, sendo 8 destes representando a Faculdade de Educação (FE-Unicamp) em Ouro Preto, Minas Gerais, uma cidade emblemática de ancestralidades negras.

O COPENE assume um significado ampliado: mais do que congresso acadêmico, torna-se espaço de resistência, visibilidade e articulação para pensar estratégias de produção intelectual negra.

Na programação do COPENE Sudeste, a FE-Unicamp contou com  a participação da diretora da Faculdade, professora Débora Jeffrey, que ministrou a conferência de abertura desta edição, que compõe a narração do vídeo divulgado nas redes da FE-Unicamp, e integrou a mesa redonda: “Políticas de ações afirmativas e bancas de heteroidentificação”. Para a diretora, o encontro reafirma a importância de reconhecer e valorizar as trajetórias de pesquisadoras e pesquisadores negros e negras do Sudeste e de diferentes gerações que constroem cotidianamente o presente, o passado e o futuro da educação brasileira.

Fotografia que mostra palco em auditório. A fotografia foi tiradas pela visão das primeiras fileiras do lado direito da plateia. Ao centro do palco, há uma mesa comprida coberta por tecidos estampados com padrões geométricos que remetem à cultura africana com as cores vermelho, amarelo, verde e marrom como predominantes; pendurada na mesa há também uma bandeira com a escrita "NEABI-UFOP". Sentados à mesa, há um homem e uma mulher. À esquerda, há uma mulher falando no microfone apoiada em uma tribuna. Todas as pessoas vestem roupas formais. À esquerda, há quatro bandeiras penduradas. Atrás, na parede, está projetada uma página com o nome "COPENE". Fim da descrição.

“Estamos aqui para compartilhar saberes, conhecimentos, epistemologias e histórias vividas e narradas. O Copene Sudeste representa esse espaço de encontro e continuidade. Diante desse cenário, quando falamos sobre o precioso ouro negro — educação, ações afirmativas e combate ao racismo —, é fundamental lembrar que percorremos milhões de milhas antes de dormir. Não cochilamos, como dizia Cidade Negra, porque nossos ancestrais fizeram uma jornada dura e intensa na diáspora. Pela memória e pela oralidade, eles nos educaram, nos prepararam e deixaram ensinamentos preciosos. A memória e a resistência presentes neste território certamente nos guiarão por todos os dias que virão”, afirmou a diretora.

Dentre as vozes marcantes do evento, também esteve a da professora da FE-Unicamp,  Elisabete Figueroa, Coordenadora Associada do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/Unicamp), que tem uma trajetória de mais de duas décadas no movimento dos COPENEs e destacou a importância do evento na formação de intelectuais negros e negras durante painel realizado na mesa junto à deputada Leci Brandão, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da UFSCar e do Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão (NUPE).

“Participo dos COPENEs há cerca de 20 anos. O primeiro foi em 2006, na Bahia, quando eu ainda era estudante de graduação e, desde então, esse congresso passou a integrar de forma permanente minha trajetória de formação. Entendo o COPENE como um espaço essencial de troca, de produção e de proposição de pesquisas sobre questões raciais, africanidades e sobre as Áfricas — um território simbólico e epistemológico de onde emergem pensadores e pensadoras negras no Brasil”, explicou Elisabete.

Ela ressaltou ainda a relevância da edição deste ano, o COPENE Sudeste, tanto pelo conteúdo das mesas quanto pelas articulações que dele surgiram.
“Também na ocasião, realizamos o pré-lançamento do Centro de Estudos para a Diáspora Africana, que será sediado no Memorial da América Latina, com lançamento oficial previsto para novembro deste ano. Essa iniciativa expressa uma articulação de pensamentos e pesquisas sobre a diáspora africana, abrangendo diversas áreas do conhecimento — dentre elas, a educação, que é fundamental”, destacou.

Para os participantes do evento, os COPENEs — sejam nacionais ou regionais — têm papel decisivo na consolidação de uma agenda de pensamento afrocentrado e interdisciplinar. “O COPENE cumpre uma função essencial ao congregar, articular e promover reflexões baseadas em afro-perspectivas, em africanidades e nas demandas reais das populações negras, seja na saúde, na educação ou em outros campos vitais da vida afrodiaspórica”, refletiu a professora Elisabete.

A mestranda da FE-Unicamp e pedagoga Manuela Queiroz Souza relatou que participar do congresso significou muito mais do que vivenciar um evento acadêmico, foi uma experiência pessoal e transformadora. “O COPENE foi importante porque pude trocar referências sobre minha pesquisa e conhecer novas pesquisadoras que abordam temas relacionados à batalha de rima, o que me ajudou a romper com o sentimento de ‘história única’. Também conheci pessoas incríveis de outros estados, como Maíra Neiva, articuladora da Frente Nacional de Mulheres do Funk, com quem dialoguei sobre meu trabalho, a lei anti-Oruam e a perseguição à cultura periférica”, ressaltou.

Além do impacto acadêmico, Manuela descreveu a experiência de estar em Ouro Preto como a realização de um sonho antigo. “Desde criança eu sonhava em conhecer a cidade por causa do livro A Ladeira da Saudade, um romance infantojuvenil sobre Marília e Dirceu. Estar lá, nesse contexto de resistência e saberes negros, foi simbólico e inesquecível”, contou.

Fotografia que mostra um grupo de 17 pessoas posando e sorrindo para a câmera. O ambiente é fechado e bem iluminado, há um palco e, na parede, há banners em tons de marrom com a escrita "COPENE". Uma parte do grupo está em pé no palco e a outra parte está sentada no mesmo. Alguns usam crachás de identificação com a mesma estampa dos banners. Fim da descrição.

Ruptura e recriação

O COPENE Sudeste não foi apenas resistência simbólica; nele, iniciativas concretas foram articuladas. Uma das mesas abordou o lançamento do Centro de Estudos para a Diáspora Africana, com sede prevista para o Memorial da América Latina e lançamento oficial em novembro de 2025, conforme anunciou Elisabete Figueroa. Essas articulações revelam que o movimento dos COPENEs vai além da crítica: é também produção, planejamento e fortalecimento institucional de espaços negros de saber.

O COPENE Sudeste demonstra que a produção intelectual negra e as afro-perspectivas são resposta e alternativa. Em Ouro Preto, entre memórias e resistência, que a luta por uma educação antirracista, diversa e inclusiva se renova — digna, democrática e transformadora, não cede terreno.

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