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Institucional

Educar na diversidade desde a infância: caminhos para uma pedagogia intercultural

Especialistas do Brasil e da Itália debatem práticas para uma educação mais inclusiva e diversa desde a infância.

A educação contemporânea enfrenta o desafio de lidar com a pluralidade cultural que compõe a sociedade. Falar em “educar na diversidade” não significa apenas reconhecer diferenças, mas integrá-las ao processo formativo desde a infância, ampliando horizontes para a construção de uma cultura escolar mais inclusiva, ética e democrática.

A profa. Dra. Clara Maria Silva, titular da Universidade de Florença (Itália), traz em sua experiência em pedagogia geral, Educação Infantil, pedagogia da família e coordenação pedagógica, reflexões sobre a função da educação na construção de sociedades mais justas. Para a professora, o letramento e a inclusão não podem ser desvinculados da cultura.

Segundo a professora, o letramento, aliado à cultura, torna-se fundamental para que crianças e adolescentes consigam compreender e respeitar múltiplos contextos sociais e identitários. Nesse sentido, ela afirma que “a escola precisa assumir o compromisso de formar sujeitos capazes de dialogar com o diferente, entendendo a diversidade não como obstáculo, mas como parte constitutiva da vida coletiva e da cidadania”.

A importância dessa perspectiva é também destacada por Clara (2017, p. 251), que enfatiza a contribuição da antropologia cultural para a pedagogia:

“A pedagogia recebe da antropologia cultural não apenas teorias e conceitos, mas também métodos e instrumentos úteis para interpretar o pluralismo das diferenças presente na sociedade e, em particular, nos espaços da vida coletiva, como na escola. De fato, a participação da antropologia vai em uma direção dupla: uma de caráter teórico-epistemológico, a outra de natureza prática e operacional, fruto das suas experiências de trabalho no campo, do qual emerge a intrínseca relação entre identidade e alteridade, entre o Eu e o outro.”

O conceito de educar na diversidade, portanto, articula-se com a necessidade de preparar as novas gerações para o exercício da cidadania intercultural. Isso implica um projeto pedagógico que valorize a singularidade de cada indivíduo, ao mesmo tempo em que promova a cooperação, a empatia e o reconhecimento da alteridade.

“A educação tem um papel fundamental em envolver todos e todas para uma sociedade mais justa, criando oportunidades desde os primeiros anos de vida. Isso exige atenção às desigualdades históricas, ao contexto social dos alunos e à valorização dos pontos fortes de cada comunidade. Paulo Freire já nos ensinava a importância de vincular educação e esperança, e esse princípio segue atual em escala global”, destacou Clara.

Dessa forma, a Educação Infantil não pode ser reduzida a um processo de transmissão de conteúdos, mas deve constituir-se como espaço de construção coletiva, em que o respeito à diversidade seja um valor formativo inegociável. Como reforça Clara (2017, p. 258):

“Então, espera-se um empenho educacional voltado ao reconhecimento e ao respeito do outro, da sua diversidade ou alteridade e para promover uma ideia de intercultura, fruto da colaboração entre as várias ciências que atuam juntas para um fim comum. Trata-se de colocar em prática ações voltadas para a superação das contraposições e das ideologias, capazes de fazer acolher a absoluta singularidade e irrepetibilidade de cada indivíduo e de criar um valor não negociável nas relações intersubjetivas e, então, interculturais.”

Assim, educar na diversidade desde a infância é preparar as novas gerações para compreenderem a si mesmas e aos outros em um cenário de constante transformação cultural. Mais do que ensinar conteúdos, trata-se de possibilitar o desenvolvimento de competências para conviver com a pluralidade, respeitar diferenças e construir coletivamente uma sociedade mais democrática.

Tema foi discutido por especialistas

A Profa. Dra. Clara Maria Silva, titular da Universidade de Florença (Itália), e o Prof. Marco Piazza, da Universidade Roma Tre, foram os convidados internacionais que estiveram presentes ao debate na roda de conversa “Educar na diversidade a começar da infância” – tema central de uma atividade promovida pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) e pelo Mestrado Profissional em Educação Escolar da Faculdade de Educação da Unicamp (FE-Unicamp), com apoio do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE-Unicamp.

O encontro reuniu pesquisadores do Brasil e da Itália para refletir sobre os desafios da educação inclusiva e equitativa nos primeiros anos de vida. Para a professora, o letramento e a inclusão não podem ser desvinculados da cultura.

A professora também enfatizou a importância dos intercâmbios acadêmicos internacionais, que permitem a troca de boas práticas pedagógicas. Nesse sentido, mencionou o acordo de cooperação entre a Universidade de Florença e a Unicamp, que fortalece pesquisas conjuntas em educação infantil e inclusão.

O evento contou ainda com a presença do Prof. Marco Piazza, da Universidade Roma Tre, especialista em Filosofia, que destacou a relevância da internacionalização e do diálogo epistêmico entre diferentes contextos acadêmicos. Em sua primeira visita ao Brasil, Piazza ressaltou a complexidade do país e o potencial das parcerias interuniversitárias com a Unicamp.

A iniciativa integra os esforços da Faculdade de Educação da Unicamp em articular formação docente, pesquisa e políticas públicas, reforçando seu compromisso com os valores de diversidade, inclusão, acessibilidade e equidade na educação.

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