Angel Ricci Moreira | Atualizado em 02/06/2023 - 13:53 Notícia

Homenagem da Faculdade de Educação à Profa. Adriana Momma

Tristeza e saudade marcam homenagem à Professora Adriana Missae Momma, com o plantio de uma árvore em sua memória.

Campinas, 24 de maio de 2023 - Foi com pesar e ao mesmo tempo com alegria que amigos, colegas e familiares se reuniram para prestar uma homenagem à querida Professora Adriana Missae Momma. Quase um ano após seu falecimento prematuro em 5 de agosto de 2022, aos 47 anos, a comunidade acadêmica decidiu plantar uma árvore em sua memória, tornando-a presente de uma maneira especial.

A homenagem foi marcada por discursos emocionados, nos quais colegas e amigos destacavam as diversas qualidades de Adriana, sua paixão pela educação e seu comprometimento em promover mudanças positivas na sociedade. Foi um momento de reflexão sobre a importância de preservar a memória e o legado dos que se foram, mantendo viva a inspiração

Acesse a galeria de imagens da homenagem clicando aqui.

Apresentamos abaixo as palavras do Professor Dr. Renê J. Trentin Silveira, que relembram a alma sensível da querida Professora Adriana e seu compromisso inabalável com a produção e a democratização do conhecimento.


“Apesar de ser esta uma ocasião de tristeza para todos nós, pela saudade e pela falta que sentimos dela, também estamos felizes por estar aqui e podermos fazer, juntos, essa homenagem à nossa querida Adriana que, assim, de algum modo, se faz de novo presente entre nós. 

Nossa colega, Profa. Adriana Missae Momma, nos deixou prematuramente há quase um ano, mais precisamente no dia 5 de agosto de 2022. Ela tinha 47 anos e uma filhinha de 8, a Marjorie, que agora já está com 9 anos.

Adriana chegou na Faculdade de Educação em 2011 e era professora do Departamento de Políticas, Administração e Sistemas Educacionais, o DEPASE. Na FE, atuava como docente e pesquisadora, na graduação e na pós-graduação; integrava, desde 1998, o Laboratório de Políticas Públicas e Planejamento Educacional, o LaPPlanE; coordenava a Linha de Pesquisa Estado, Políticas Públicas e Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE-Unicamp. Foi, também coordenadora Adjunta do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – Unicamp (PNAIC), de 2013 a 2015. Em 2016, coordenou uma iniciativa inédita na Unicamp: uma pareceria entre a FE e a Diretoria da Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp, a DEdIC, da qual resultou o curso de especialização “Educação de Crianças e Pedagogia da Infância”, oferecido às professoras daquela instituição e que, posteriormente, teria novas edições. Mais tarde, de 2017 a 2022, Adriana viria a se tornar Diretora e Coordenadora da DEDIC.

Esse breve currículo retrata muito timidamente o conjunto quase infinito de atividades que Adriana desenvolvia, nesses pouco mais de 10 anos de casa, no desempenho de suas atribuições como docente da FE. Mas já é suficiente para revelar seu profundo compromisso ético, político e profissional com o ensino, a pesquisa e a extensão na Unicamp.

Na formatura de agosto do ano passado (2022) tive a oportunidade de homenageá-la postumamente. Lembrei, então, que, além de profissional e colega exemplar, Adriana tinha também, como marca registrada, a simpatia, o jeito cordial no trato com as pessoas e um sorriso contagiante, que iluminava os ambientes e os corações de quem a encontrava. 

Mencionei também, naquela ocasião, um episódio que me fora narrado pelo Josué, funcionário que trabalha na recepção da Faculdade. Ele havia me contado que, semanas antes do falecimento dela, eles se encontraram na entrada do prédio Prof. Paulo Freire. Vigorava ainda o distanciamento social como medida preventiva à Covid 19. Mesmo assim, vencendo as barreiras do medo e da insegurança, ela decidiu abraçá-lo, porque, para ela, “a coisa mais importante é poder abraçar um amigo”. E nesse abraço, disse também a ele:

“Eu pensei que talvez não pudesse mais encontrar os colegas, diante de tantos que se foram. Mas hoje eu estou aqui e vou abraçar os funcionários, os docentes e os alunos, porque essa é uma oportunidade que nós estamos voltando a ter.”

Ela, então, se emocionou e chorou nos braços dele. 

Sempre que penso nessas palavras da Adriana e, sobretudo, na prematuridade de sua partida, a primeira coisa que me vem à mente é como nos relacionamos com o tempo. O que fazemos com ele? A que damos prioridade? O que escolhemos fazer e não fazer em cada dia? 

A vida é frágil e breve. Hoje estamos aqui, amanhã talvez não. O que queremos para a nossa vida e para a vida das pessoas ao nosso redor: nossos familiares; nossos companheiros e companheiras; nossos amigos; nossos colegas de trabalho? Que espaço e que tempo reservamos, em nossa rotina cotidiana, para o abraço, o afago, o elogio, o beijo, a solicitude, a generosidade, o amor, o prazer, o cuidado? O que realmente vale a pena para nós?

Quando falo assim do tempo, não me refiro apenas ao tempo cronológico, que passa impiedosa e rapidamente, à nossa revelia, deixando para trás uma infinidade de escolhas feitas, para nosso pesar ou nosso contentamento. Quando falo do tempo, penso, também, e sobretudo, naquilo que eu chamaria de “tempo do nunca mais”. Aquele tempo do qual só nos damos conta de verdade quando já não há mais tempo, quando já passou da hora, quando já é tarde. A oportunidade se foi, o timing se perdeu, a chance escorreu por entre nossos dedos. Ela estava ali, à nossa frente, gritando à nossa intuição e a deixamos passar. E aí já não há muito o que fazer. Não há mais a quem abraçar, afagar, elogiar, beijar, amar, cuidar. Restará, com um pouco de sorte, uma boa lembrança, uma doce saudade. Mas nem sempre – e nem todos – temos essa sorte.

Para mim, esse foi mais um dos muitos ensinamentos da Adriana: a vida é breve, frágil e escapa ao nosso controle. A desatenção de hoje talvez não possa ser remediada amanhã. Então, não dá para adiar o cuidado.

Certamente não teremos tempo de viver, sentir e fazer tudo o que de fato importa para nós, para as outras pessoas, para o País, para o mundo. Afinal, somos seres: humanos, limitados, erráticos, finitos, contraditórios, por vezes vaidosos, malvados, egocêntricos, narcisistas, medrosos. Por isso, alguma vivência do “tempo do nunca mais” parece nos ser inexorável.

Mas somos também seres inteligentes, criativos, amorosos, corajosos, livres (ao menos em certa medida), capazes de bondade, empatia, humildade, altruísmo e solidariedade. Então, podemos sim aproveitar melhor o nosso “tempo do aqui e agora”. Mas, para isso, precisamos aprender a discernir: o essencial do acidental; o importante do irrelevante; o urgente do que pode esperar; o prioritário do secundário; o aliado do adversário; o companheiro do inimigo; a luta que vale ser travada daquela que pode ser postergada ou evitada.

Claro que esse aprendizado é difícil, demorado, coisa para a vida toda; claro também que, nesse caminho, cairemos algumas (ou muitas) vezes. Mas esses tombos, se refletidos, também farão parte do processo de aprendizagem.

Em suma, para mim, o que nos ensina Adriana, pode ser sintetizado nas palavras do poeta:

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais (Vinícius de Moraes – Tomara)

Espero que aprendamos também isso com ela.

Adriana Momma, presente!!!

Muito obrigado."


Este texto corresponde à fala do Diretor da Faculdade de Educação da Unicamp, Prof. Renê José Trentin Silveira, na cerimônia de homenagem à Profa. Adriana Momma, do Departamento de Políticas, Administração e Sistemas Educacionais (DEPASE), realizada em 24/05/2023, momentos antes de se iniciar a 373ª. Reunião Ordinária da Congregação. Na ocasião foi plantada, em sua memória, uma cerejeira japonesa nos jardins da Faculdade. A homenagem, inicialmente proposta pelo DEPASE e encampada pela Direção, contou com a presença de Marjorie e Thaís, respectivamente filha, de 9 anos, e sobrinha da Adriana. Compareceram também a Profa. Cristiane Megid, Diretora da Diretoria Executiva de Ensino Pré-Universitário da Unicamp e diversas professoras da Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp (DEDIC), além de docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes da FE.