Renata Seta | Atualizado em 29/11/2024 - 15:10 Notícia

PODCAST DA FE, #EP2 E ENTREVISTA ESCRITA: CRISTINA SACRAMENTO

A Professora Cristina Carla Sacramento foi uma das 86 mulheres selecionadas para realizar seu estágio pós-doutoral na Universidade Agostinho Neto, em Luanda (Angola), com a pesquisa intitulada "As representações de infâncias que nos chegam pela literatura infantil desde o século XX: diálogos entre Brasil e África" 

Por meio da Chamada Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, que oferece bolsas de doutorado sanduíche e pós-doutorado no exterior para pesquisadoras negras, quilombolas, indígenas e ciganas, a professora investigará obras de literatura infantil do início do século XX, no contexto brasileiro, em diálogo com obras literárias de Angola. (Publicação original no site da FE).

Como você tomou conhecimento sobre a Chamada Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência? 

Tomei conhecimento da Chamada, basicamente, de duas formas: em grupos de WhatsApp dedicados à temática da educação para as relações étnico-raciais dos quais faço parte e pelo envio da chamada, para mim, por parte de colegas de Departamento e de minha ex-orientadora de Doutorado, Profa. Dra. Heloísa Helena Pimenta Rocha. Posteriormente, comecei a acompanhar as informações pelo site do CNPq.

Foi a primeira vez que você participou dessa chamada?
Sim, na verdade trata-se da primeira edição da Chamada. A expectativa é que ela se torne um programa para que muitas outras mulheres tenham esta oportunidade de realizar seus estudos/pesquisas em outros países.

Por que a escolha da Universidade Agostinho Neto, em Luanda (Angola)?

A escolha desta Universidade se deu por, pelo menos quatro motivos:

1) Ir ao continente africano é uma experiência de reencontro com as minhas raízes, minha história, enquanto mulher negra. Uma história por muito tempo ausente nos currículos escolares; 

2) Enquanto pesquisadora, destaco que a UAN é considerada a maior universidade de Angola, constituindo-se numa referência no que diz respeito ao ensino superior angolano e investigação científica;

3) Estou realizando a pesquisa na Faculdade de Humanidades, onde é ofertado o curso de Línguas e Literaturas Africanas e Língua e Literaturas em Língua Portuguesa, que tem estreita relação com o meu projeto;

4) Meu supervisor de Pós-Doutorado, o Prof. Dr. Sabino Fernando do Nascimento, atua no curso de Língua e Literaturas em Língua Portuguesa, em nível de graduação e, na pós-graduação, ele atua no curso de Literaturas em Língua Portuguesa. Ele é especialista em Literatura Infanto-Juvenil e desenvolve pesquisas voltadas para a temática. 

Logo, eu estou convencida de que este conjunto de elementos vai me assegurar excelentes resultados na pesquisa e o meu crescimento enquanto pessoa.

Conte um pouco sobre a sua experiência como doutoranda na FE Unicamp

Eu ingressei no Doutorado em Educação no ano de 2018, na linha de pesquisa Educação e História Cultural, sob a orientação da Profa. Dra. Heloísa Helena Pimenta Rocha. Em minha tese, intitulada “Homens de cor” representados por “Homens de letras”: uma análise de livros didáticos de História do Brasil do século XIX, procurei analisar os discursos sobre os negros em quatro livros didáticos de História do Brasil publicados no período compreendido entre 1831 e 1887, ou seja, durante a vigência da escravidão, mas também um momento em que se debatia a abolição no Parlamento.

Enquanto mulher preta e pobre, estudar na Unicamp foi uma grande conquista. Entretanto, eu não seria bem sucedida neste processo formativo sem políticas de financiamento estudantil. E por esta razão, vou mencioná-las ao mesmo tempo que falo de minha trajetória.

Destaco, primeiramente, o Programa de Assistência Estudantil, que me permitiu permanecer em Campinas no primeiro ano do curso, com acesso à moradia, ao transporte e alimentação no Restaurante Universitário.

No que diz respeito às disciplinas, para cumprir os créditos, tive a possibilidade de cursá-las em diferentes Institutos, com professoras/es altamente qualificadas/os, muitas/os delas/es referências em suas áreas. Além disso, participava de reuniões, seminários e eventos.

Participei por três semestres do Programa de Estágio Docente, dois deles com bolsa. Foi um período de muito aprendizado, uma vez que acompanhava as disciplinas ministradas por minha orientadora e tinha a possibilidade de realizar a leitura e debate dos textos, além de auxiliar no planejamento e realização das atividades junto às suas turmas.

Finalmente, é importante destacar que meu Doutorado foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o que possibilitou que eu me dedicasse integralmente à pesquisa e participasse de eventos nacionais e internacionais, como: VIII Encontro Maranhense de História da Educação (São Luiz); VIII Congresso Brasileiro de História da Educação (Maringá); X Congresso Luso Brasileiro de História da Educação (Curitiba); XI Congresso Luso Brasileiro de História da Educação (Porto); 38 International Standing Conference for the History of Education - Education and the body (Chicago)  e 37 International Standing Conference for the History of Education (Istambul), além de participar de uma semana de estudos no Centro Internacional de la Cultura Escolar (CEINCE), Espanha.

Em poucas palavras, considero que minha experiência como Doutoranda na Unicamp foi bem sucedida, porque uma vez estudando numa instituição de excelência, considerei como única todas as oportunidades que eu tive, buscando sempre ampliar/qualificar a minha formação. E hoje, procuro compartilhar destes conhecimentos em outros espaços/ instituições.

Qual a importância, para você, da pesquisadora Beatriz Nascimento e dessa chamada (que leva o seu nome) para o fortalecimento na ciência para pesquisadoras negras, quilombolas, indígenas e ciganas?

Beatriz Nascimento é uma grande referência, pois enquanto intelectual negra, adotou uma perspectiva crítica sobre a sociedade brasileira, de nosso lugar neste território e nosso direito a ele. Sendo assim, ela nos inspira a resistências e deslocamentos na estrutura racista vigente. Ela nos convoca a reivindicar outros espaços, a denunciar e romper com o silenciamento e a invisibilidade que, historicamente, se tentou impor a nós, população negra.

Neste sentido, a Chamada Atlânticas, ao trazer o seu nome, numa proposta direcionada a mulheres negras, quilombolas, indígenas e ciganas, faz justo e merecido reconhecimento do seu legado. Daí a importância desta Chamada se tornar um programa, para que possamos cada vez mais, dar continuidade e legitimar a luta de Beatriz Nascimento e de muitas outras mulheres, que vieram antes de nós.

No meu caso, em particular, me alegra e honra o fato de, assim como ela, eu buscar estreitar o diálogo com o continente africano. E após minha aprovação nesta Chamada, retomo as suas palavras: “Oh paz infinita poder fazer elos de ligação numa história fragmentada. [...] Eu sou atlântica”.

Beatriz Nascimento, presente!

Já participou de algum coletivo ou ação social, ou participa, relacionado à questões étnicas? Por favor, relate brevemente. Se tiver link, por favor informar.
Desde o ano de 2019 sou integrante do Movimento Negro de Mariana, um coletivo que busca por meio de suas ações, fortalecer a luta antirracista, em diálogo com o poder público, instituições de Ensino Superior e outros coletivos preocupados com a justiça social. 

https://www.instagram.com/movimentonegromariana/

https://www.instagram.com/movimentonegromariana?igsh=NmxyazJqaGE1MTl6   

 Logo que cheguei ao Departamento de Educação da UFOP, em 2019, sou integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Ouro Preto (NEABI-UFOP), um órgão comprometido com o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão nos campi da Universidade e na comunidade, cuja temática se relaciona com as questões étnico-raciais. Entre os anos de 2020 e 2022, fui coordenadora do NEABI/UFOP e desde o fim de minha coordenação, tenho colaborado com o Núcleo na oferta de componente curricular sobre a temática, na realização de pesquisas e ações extensionistas, participando de eventos e ofertando disciplinas em seu curso de Pós-Graduação Lato-Sensu.  

https://www.instagram.com/neabiufop/

https://www.instagram.com/neabiufop?igsh=dnUzOHZiOG9tamph 

Quais são seus próximos objetivos?

Neste momento, pretendo me dedicar à pesquisa de Pós-Doutorado, para que eu possa coletar o máximo de dados possível e produzir trabalhos ao longo dos próximos anos. Isso porque trata-se de uma pesquisa com várias etapas, sendo esta a primeira: realizar um levantamento de obras literárias em acervos de bibliotecas de Angola e do Brasil.

Considero sempre importante frisar que pretendo seguir contribuindo para a implementação da Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas. E, neste caso, na área da literatura infantil de Angola, possibilitando que outras pessoas (professoras/es e docentes de licenciaturas) conheçam estas narrativas, ampliando o diálogo entre estes dois países.

Pretendo, ainda, publicar uma obra infantil, na perspectiva da diversidade étnico-racial, em 2025.

Deseja comentar algo mais sobre o tema?

Quero destacar a importância de iniciativas como esta do Ministério da Igualdade Racial, em parceria com outros ministérios e o CNPq, na luta pela equidade. Oferecer condições materiais para mulheres negras, indígenas, quilombolas e ciganas se dedicarem às suas pesquisas é uma iniciativa louvável, uma vez que nos oferece a possibilidade de nos firmar, cada dia mais, como produtoras de conhecimento científico.

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Cristina Sacramento, Profa. Adjunta do Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto (DEEDU/UFOP)

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  PODCAST DA FE, #EP2, OUÇA AGORA NO CANAL DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNICAMP, clique aqui! 

PARA SABER MAIS:

NOTÍCIA PUBLICADA NO SITE DA FE, 26/09/2024:

EX-ALUNA DE DOUTORADO DA FE É SELECIONADA NA CHAMADA ATLANTICAS PARA REALIZAR ESTÁGIO PÓS-DOUTORAL EM LUANDA, NA ÁFRICA

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Pesquisa, arte, redação e publicação:
Renata Seta, Comunicação Institucional - FE/Unicamp
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