No dia de ontem, 11/07, perdemos nosso colega, o Prof. Carlos Rodrigues Brandão. Ele foi docente do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciência Humanas (IFCH), onde trabalhou de 1976 até 1997. Aposentado, permaneceu na Unicamp como Professor Colaborador, atuando principalmente na pós-graduação do IFCH. Foi também professor visitante em outras universidades e recebeu diversos prêmios, dentre os quais: o título de Comendador do Mérito Científico, conferido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e a medalha Roquette Pinto, da Associação Brasileira de Antropologia. Também foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e pela Universidade Federal de Goiás e, mais tarde, com o de Professor Emérito pela Unicamp. Muito próximo das ideias e da pessoa de Paulo Freire, atuou também como pesquisador no Instituto que leva o nome do amigo de tantos anos e jornadas.
Na Faculdade de Educação, colaborou com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos (Gepeja) e ofereceu em 2017, em parceria com a Profa. Nima Spigolon, a disciplina “Temas e lugares entre fronteiras: educação e vida” no Programa de Pós-graduação em Educação.
Intelectual engajado, dinâmico e multifacetado, escreveu inúmeros livros e artigos, além de contos, poesia e literatura infantil. Boa parte de sua obra encontra-se disponível no site "A partilha da Vida", nome sugere alusão à sua generosidade como pessoa e como educador erudito e popular. Como ele diz na página que abre o portal:
Este site, ou “sítio”, contem quase tudo o que eu escrevi ao longo da vida.
Tudo o que está neste site é “copy free”.
Assim, tudo que aqui está pode ser livremente acessado.
Pode ser "baixado", lido. impresso, etc. desde que para usos ética, política, intelectual e espiritual devidos e confiáveis.
Ele está dividido em: LIVROS, SEQUÊNCIAS E ESCRITOS.
Ele é um site aberto a sugestões e contribuições que algo o corrijam ou aperfeiçoem.
Caso não seja possível enviar algo neste próprio site, utilizem o e-mail: carlosdecaldas@gmail.com
Boa leitura.
Uma Vida feliz, fecunda e solidária
Carlos Rodrigues Brandão
Esse era o Professor Brandão! Sua partida deixa uma lacuna enorme no campo progressista da educação brasileira. Ele já nos faz muita falta! Mas suas ideias e seu legado continuarão a ser fonte de esperança, entusiasmo e inspiração para seguirmos no caminho que ele nos ajudou a enxergar e a trilhar.
Em sua homenagem e memória, deixamos abaixo um de seus belos poemas e alguns excertos de seu artigo Alguns passos pelos caminhos de uma outra educação.
Nossas condolências e nosso abraço afetuoso aos familiares e aos amigos do Professor Brandão.
Direção da FE
A terra amiga
A avareza da terra é ao contrário:
é de lá-pra-cá
e é pelo avesso.É de dentro-pra-fora
e é amo-rosa-mente.
O de que ela mais gosta
é de dar tudo o que tem.Quando come uma semente
ela devolve ao mundo
Uma árvore ... lenta-mente.
(BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O jardim de todos. Disponível em: https://apartilhadavida.com.br/wp-content/uploads/escritos/ARTE/POESIA%20-%20%20LIVROS/O%20JARDIM%20DE%20TODOS%20-%20rosa%20dos%20ventos.pdf Acesso 12/07/2023).
Alguns passos pelos caminhos de uma outra educação
Ousemos relativizar o primado crescente das aulas data-show e aprender a utilizar criativamente os aportes da informática, em nome de um saber criativo e elaborado no momento do ensinar-aprender. Um com-saber com pleno direito ao improviso de parte do professor e de alunos. Assim, poderemos redescobrir como retomar a aula em que a fala de parte a parte constrói o seu próprio saber, ao invés de reduzir-se a um repetitivo empilhamento de informações prontas e não aberta à criação do debate e da descoberta do sabor do saber no acontecer do ensinar e aprender.
Tenhamos a coragem de abolir ou reduzir o quanto for possível as competições e as concorrências. A escola não é um estádio e nem a educação é uma olimpíada. (...) Quando será que a escola e a educação irão atribuir valores e prêmios para os mais solidários, os mais “abertos-ao-outro”, os mais cooperativos e capazes de dialogar em e entre equipes, em lugar dos solitários obcecados por seu exclusivo desempenho individual e por suas medalhas? Afinal, queremos produzir homens-máquinas para os poderes do mercado, ou pessoas humanas para a construção de uma sociedade generosamente humanizada?
Saibamos criar currículos em que a música recobre o seu lugar na sala de aula e dialogue por igual com a matemática; a dança dance com a geografia e ambas criem territórios de vida e, não, de informações sobre a vida. Deixar que a poesia seja um dos motivos de se ensinar “língua pátria”.
No seu sentido mais radicalmente humano e, por isto mesmo, mais transformador, saibamos recolocar a política no centro do que se vive na escola. Em primeiro lugar, política com o sentido de cuidado da “polis". (...) Em segundo lugar, política como partilha do processo de transformar pessoas - o “conscientizar”, em Paulo Freire - para criar, também a partir da escola e desde a infância, seres humanos com um sentimento e um saber de liberdade e de autonomia, logo, de partilha, participação e co-gestão ativa e solidária de processos de transformação de nossos mundos de vida e de destino. Lembremos: a educação não muda o mundo; a educação muda pessoas; pessoas mudam o mundo.
(BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Alguns passos pelos caminhos de uma outra educação: ideias para tornar um pouco mais esperançosamente integral o que chamamos de “educação integral”. Disponível em: https://apartilhadavida.com.br/wp-content/uploads/escritos/EDUCAÇÃO/UMA%20OUTRA%20EDUCAÇÃO/ALGUNS%20PASSOS%20NO%20CAMINHO%20DE%20UMA%20OUTRA%20EDUCAÇÃO%20-%20rosa%20dos%20ventos.pdf Acesso 12/07/2023).